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O cancelamento da E3 2020 pode marcar o começo do fim?

A pandemia do coronavírus colocou a E3 em quarentena e não teremos um evento em 2020. Mas o que precisamos levar em consideração agora é a possibilidade do evento não se recuperar e acabar se tornando mais uma vítima fatal do COVID-19. E claro que a culpa não seria inteiramente do vírus – na verdade a situação deste ano pode acabar marcando apenas a última vela sendo acesa num velório que já vinha sendo anunciado.

O histórico do paciente

Assim como as outras vítimas fatais do coronavírus, a E3 não seria um paciente de risco se já não estivesse debilitada. E pra entender a situação de saúde do evento, vamos falar um pouco de sua história – que é muito interessante.

A E3 teve sua primeira feira em 1995 e foi criada meio como uma união entre o útil e o agradável. Até então as empresas de game recorriam à CES para mostrar suas novidades e estavam bastante descontentes com a atenção que recebiam na feira.

Em 1991 a CES nos colocou numa barraca. Você tinha que passar por todos os vendedores de pornô para nos encontrar. Eu fiquei furioso com a maneira que a CES tratava a indústria de vídeo games e comecei a planejar a dar o fora de lá.
Tom Kalinske, ex-chefe da divisão norte-americana da Sega

Ao mesmo tempo, os games estavam enfrentando uma de suas “polêmicas cíclicas” em relação à violência, por causa de Mortal Kombat na época. Temendo ações regulatórias do governo, diversas produtoras de games se uniram e criaram a ISDA (Interactive Digital Software Association), que mais tarde se transformou na mais conhecida ESA (Electronic Software Association), que conhecemos até hoje e é responsável pela organização da E3. Fun fact: Da ISDA que surgiu o conhecido selo ESRB, que determina a classificação indicativa dos jogos até hoje nos EUA.

Aproveitando sua associação, as produtoras de games decidiram realizar um evento próprio, e assim nascia a E3 em 1995. Outro fun fact: E3 é um jeito de escrever EEE: Electronic Entertainment Expo.

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O primeiro espirro veio nos anos mais saudáveis

A E3 experienciou um sucesso crescente e em rápido ritmo desde sua primeira edição ao longo dos anos seguintes. A primeira já foi enorme, registrando 40.000 participantes e, dez anos depois, em 2005, o número quase dobrou, batendo a marca de 70.000 participantes que viram os anúncios do PS3 e do Xbox 360. O crescimento do evento era um reflexo do crescimento dos games como mídia.

Mas esse sucesso todo resultou numa medida que representou o primeiro ferimento grave para a E3: a ideia de limitar a presença do público. Em 2007 e 2008 a feira foi reimaginada como a “E3 Media & Business Summit”, limitando o público a 10.000 pessoas. E é importante entender a lógica por trás dessa jogada, porque ela não veio “do nada”.

A E3 foi concebida, antes de mais nada, como um evento voltado para negócios. Para que criadores e produtores possam se encontrar e criar novos contatos dentro da indústria, aproveitando o “embalo” para promover as novidades do mundo dos games e gerar hype em títulos futuros. O que aconteceu é que essa segunda parte, que deveria ser uma consequência, foi aos poucos se tornando a parte principal do evento, causando problemas para seus organizadores não só do ponto de vista estrutural, pelo número de participantes. 

As produtoras começaram a ficar incomodadas com a “espetacularização” da E3, tendo que investir rios de dinheiro para tentar se destacar no que se tornou uma competição, o que fazia também com que muitos jogos fossem mostrados antes da hora, resultando em algo que muitos jogadores adoram criticar: o famoso downgrade do que é mostrado na E3 em relação ao que chega nas lojas.

O problema é que a ideia de reduzir novamente o evento reduziu também drasticamente sua popularidade. A feira já havia se tornado um espetáculo, seus organizadores querendo ou não, e essa tentativa de tentar controlar o “show” fez com que ele perdesse um pouco de seu embalo.

O remédio que escondia os sintomas

Depois do experimento não dar muito certo, a E3 2009 voltou a abraçar um estilo show e, assim, voltou a crescer. O evento de 2009 teve a presença de 41.000 pessoas e voltou a fazer sucesso. Chegando em 2018 a E3 voltou a ter seu maior público desde 2005, batendo as 69.200 pessoas. Mas é interessante notar que, mesmo nessa retomada, começaram a aparecer sinais de que as coisas já não seriam mais as mesmas.

Em 2013 a Nintendo passou a adotar o formato Direct, não comparecendo mais presencialmente ao evento. Em 2016 foi a vez da EA sair, criando a EA Play, evento próprio que acontece “mais ou menos junto” da E3. No ano passado, 2019, a Sony não participou e já havia avisado que não participaria neste ano também mesmo antes do cancelamento oficial do evento.3

Outras produtoras de game oscilaram entre apresentações presenciais ou vídeos online prontos que eram exibidos durante o evento ao longo dos anos. A verdade é que agora a E3 tem um concorrente muito mais ameaçador para a existência do evento do que uma pandemia: o streaming.

Morrendo aos poucos

Apesar da E3 ainda ser sucesso no coração de muitos jogadores (nem todos), um problema que o evento sempre enfrentou, desde sua primeira edição, é a preocupação das produtoras em gastar tanto dinheiro durante as apresentações. Para nós, espectadores, é muito divertido ter uma semana das principais criadoras de games mostrando suas novidades, mas as empresas enxergam o momento como uma disputa acirrada pela atenção das pessoas e de ser notadas, correndo o risco ainda de passar vergonha em alguma de suas apresentações.

Enquanto isso, os games, como mídia, estão cada vez mais populares. As pessoas procuram ativamente por novidades de grandes franquias e produtoras, não é mais tão necessário ter todo um evento no ano pra tentar chamar a atenção dos jogadores mais casuais. Além disso, com a internet na mão de quase todas as pessoas, assistir a streamings já virou uma praxe para a maioria dos jogadores. Sendo assim, as produtoras estão aos poucos optando por formatos de streaming próprio, que sai bem mais barato e bem mais controlado do que um evento insano na E3. E ainda não precisa competir pela atenção com outras empresas fazendo suas apresentações ao mesmo tempo.

A Nintendo realiza suas Direct há algum tempo, a Sony tem a Playstation Experience e criou há pouco as State of Play para mostrar suas novidades. A Microsoft, apesar de reinar na E3 desde a saída da Sony, já tem feito suas Inside Xbox há algum tempo, que têm tudo pra crescer se a empresa apostar mais na plataforma.

O cancelamento da E3, então, não poderia ter vindo em pior momento para o evento. Agora todas as produtoras que ainda pretendiam participar vão ser obrigadas a adotar o formato do streaming direto e ter a chance de ver se isso funciona pra elas. Se a maioria concluir que é mais vantajoso, adeus E3 como a conhecemos.

Às vezes morte significa transformação

Não abra sua caixa de lenços ainda. A morte da E3 como hoje a conhecemos não precisa significar o fim de vez do evento, mas talvez uma transformação que futuramente pode ser considerada bem-vinda.

Enquanto as produtoras gigantes têm cacife pra realizar eventos próprios e chamar a atenção de seus jogadores, o mesmo não pode ser dito de desenvolvedores independentes – e eles têm crescido constantemente dentro da E3.

Os organizadores da E3 têm agora a chance de direcionar ainda mais sua energia para os pequenos produtores e usar a força deles juntos para realizar um grande show. Um festival de games que, claro, ainda vão ter que batalhar pela atenção dos jogadores, mas que normalmente nem teriam onde fazer isso.

Claro que os espetáculos cheios de pompa para os games vão deixar saudades, mas pra isso ainda teremos o Game Awards para acompanhar. Não dá pra dizer que não seria interessante ter uma semana por ano para ver vários jogos que ainda nem imaginamos, não apenas o próximo COD ou Battlefield. Aliás, falando no Game Awards, será que o coronavírus cancela esse também?

Via: Escapist Magazine, Ars Technica, VG 24/7 – Web Archive

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