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GTA 6 no PS2? Conheça o submundo de "exclusivos" para o console feitos pelo Bomba Patch

Recentemente a mídia de games internacional voltou seus olhos para o Brasil. Não foi por causa da nossa movimentada comunidade de jogos independentes, ou a lotada agenda de estrelas de e-sports como o brasileiro Coldzera. O motivo de tanta curiosidade tem nome e número: “GTA 6″.

Compartilhada primeiro pelo VG247, uma foto tirada nos camelôs brasileiros mostra a capa do game da Rockstar estrelando a atriz Summer Glau, com diversas fanarts da franquia e o logo de “GTA V” modificado, além da plataforma do lançamento: o popular PS2.

Apesar da antecipação do título da Rockstar ter chamado a atenção da galera gringa, mal sabem eles que isso é apenas a ponta do iceberg, já que o PS2 possui uma imensa galeria de “jogos exclusivos” para o mercado brasileiro. Um iceberg tão grande que, mesmo tendo como base a pirataria, possui um grande valor histórico e cultural para os games no Brasil.

Por que as pessoas compravam games piratas no PS2?

Antes de GTA 6 chegar ao PS2 exclusivamente no Brasil, diversas outros mods de Grand Theft Auto San Andreas passaram pelos camelôs brasileiros, e boa parte deles saiu da criatividade de modders como o Bomba Patch, um dos primeiros grupos de desenvolvedores a lançar versões abrasileiradas de clássicos do PS2.

Para quem não conhece, o grupo fez parte da infância de muitos donos de PS2 da periferia e que não tinham dinheiro para comprar jogos originais, ou simplesmente queriam uma experiência mais brasileira na hora de jogar videogame. No auge do console da Sony, era mais vantajoso para um pai de família brasileiro pagar 10 reais em três jogos não-genuínos do que gastar duas notas de 50 para levar um jogo original para seus filhos brincarem.

O estudante de jornalismo Tadeu Mattos, cliente da Steam e apoiador de diversos projetos de games independentes atualmente, era um dos jogadores que se rendia à pirataria quando via o preço dos jogos originais no PS2. “Eu não tinha condições para comprar original. Por que pagar mais de 100 reais em um jogo se você pode comprar por 15? Tem toda a parte ética por trás, mas isso não tira o fato de que é um preço salgado para grande partes das pessoas”. 

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E na hora de passar na banca de jogos, o fator localização já era bastante importante naquela época: na hora de escolher entre um Pro Evolution Soccer com conteúdo internacional por quase 100 reais ou um Bomba Patch com a primeira e segunda divisão do brasileirão, além de narração de Galvão Bueno, por apenas 15 reais, a modificação quase sempre acabava levando a melhor.

Como o Brasil ainda estava se tornando uma potência dos games em 2010, os estúdios não gastavam muito tempo trazendo recursos exclusivos ou traduções para jogos populares por aqui, o que abriu portas para uma crescente comunidade de modders adaptar os jogos para o mercado brasileiro.

“Muitos jogadores de FIFA e PES nos videogames da nova geração começaram com o Bomba Patch na época do PS2. A Konami e a EA começaram a trazer narrações brasileiras e times brasileiros para satisfazer estes jogadores que tiveram esta experiência no Bomba Patch”, diz Allan Jefferson, integrante do grupo.

Bomba Patch: o grupo de amigos que trouxe a localização de games para o PS2

O Bomba Patch foi um dos primeiros grupos a abrir os arquivos de jogos de PS2 e deixá-lo com a cara do Brasil. Tudo começou em 2006, quando alguns amigos da periferia de São Paulo estavam cansados de jogar Winning Eleven (atual PES) sempre com as mesmas equipes.

Allan Jefferson e os amigos organizavam um campeonato de futebol na locadora do bairro chamado “Bomba Copa”, uma competição que durava sete meses e simulava as rodadas do Brasileirão, com direito a volta olímpica do vencedor pelo quarteirão.

Para dar uma turbinada na competição, o grupo seguiu o exemplo de editores que alteravam games no PS1 e aprendeu o básico para abrir os arquivos do Winning Eleven e ter acesso a edição avançada de jogadores, estádios e narração. “É como pegar um save que você edita e salva no Memory Card e substituir os dados vindos originalmente do jogo. Por exemplo, dentro do jogo existem 5 arquivos de dados de times e jogadores. Extraímos estes arquivos, alteramos ele pelo Editar do jogo carregado no PC e depois aplicamos de volta no jogo”, explica Jefferson.

A modificação começou a chamar a atenção nas locadoras de videogame e logo começou a ser requisitada nos mercados paralelos do Brasil, o que deixou o trabalho do grupo de amigos mais complexo, pois o número de jogadores aumentava e, consequentemente, as exigências por melhorias também.

Para se diferenciar de outros modders, o Bomba Patch começou a investir em recursos como músicas marcantes e até seu próprio funk. “Estávamos na época de eleições e tinham vários estúdios de gravações de músicas eleitorais oferecendo seus trabalhos em outdoors. A ideia surgiu e fomos até eles para gravar músicas para o nosso jogo. O pagamento do trabalho foi colocar um banner deles dentro do jogo, nas placas de publicidade”, conta Jefferson.

Atualmente, o grupo ainda faz modificações de jogos de futebol como antigamente, trazendo atualizações e a localização para PS2, com base nos games lançados para os consoles da geração de videogames atual. Como nem desenvolvedoras e a própria Sony não dão mais suporte para o videogame, que ainda é popular no Brasil, as modificações não-oficiais são a saída para quem quer jogar algo diferente e não possui dinheiro para investir em um novo hardware.

Os patchs são disponibilizados de graça na internet pelo canal do Youtube da Geomatrix Games, após um período de exclusividade com um patrocinador que sustenta o time de desenvolvedores.

Mas e o “GTA 6”?

Em relação ao “GTA 6” que ficou famoso internacionalmente, Allan Jefferson disse que o grupo não teve nada a ver com aquilo, mas que o Bomba Patch já está trabalhando em uma modificação para trazer o próximo grande jogo da franquia da Rockstar para o PS2. “Nosso GTA 6 sairá no momento certo e com novidades que façam jus à versão, quem sabe com carros brasileiros e cenários inéditos”.

No auge do PS2 no Brasil, o grupo foi responsável por lançar “GTA Rio De Janeiro” e “GTA IV”, duas populares modificações de “GTA San Andreas” que traziam localização em português e menus que permitiam alterar o protagonista e ativar cheats para mudar a jogabilidade.

Além de estar trabalhando em seu “GTA 6”, o grupo também está envolvido no ousado projeto de trazer uma versão do sucesso “Minecraft” para PS2. “Seria um port da versão do Linux rodando no PS2. Primeiramente, instalamos o Linux no PS2 e ele rodará a versão do jogo”, conta Jefferson. “Queremos fazer isso do modo mais simples para o jogador.”

“O Playstation 2 ainda é o videogame de muita gente e eles não ficarão sem novidades se depender da gente”

Segundo o representante do Bomba Patch, o grupo não pretende parar de lançar seus exclusivos para o PS2 no Brasil. “O Playstation 2 ainda é o videogame de muita gente e eles não ficarão sem novidades se depender da gente”. Para encerrar, Allan também comentou sobre a importância do console da Sony para o mercado brasileiro. “O PS2 foi e ainda é o videogame de entrada de muitos jogadores. Devido ao destrave e aos jogos não originais, muita gente teve acesso e hoje em dia são jogadores que consomem produtos originais. Hoje em dia, temos jogos dublados e legendados, tudo isso graças à comunidade gamer brasileira que cresceu muito e fez do Brasil um mercado importante no ramo de games.”

Mod pode ser considerado pirataria? Legalmente falando, sim

Apesar da Sony ter encerrado a produção do videogame em 2013 e o console não ter recebido grandes lançamentos nos últimos quatro anos, fazer modificações e distribuí-las sem autorização é considerado pirataria pela legislação brasileira.

Segundo o advogado Cristiano Prestes Braga, especialista em direito empresarial e propriedade intelectual, os videogames são protegidos pela lei dos Direitos Autorais e Lei do Software, onde a detentora dos direitos pode opor-se legalmente contra modificações mesmo quando o produto não está mais em circulação. “Considerando que o prazo de proteção da Lei de Direitos Autorais é de 70 anos após a morte do autor e a da Lei do Software é de 50 anos a contar a partir da sua criação ou publicação, mesmo que o game não esteja sendo comercializado, ele ainda permanece protegido pelo prazo legal.”

Ou seja, se a Rockstar ou a Konami estiverem sem nada para fazer, fuçarem os fóruns de mods no Brasil e encontrarem alguma adaptação que acham ofensiva, as produtoras tem precedente para abrir um processo, que pode acarretar em multa e até 4 anos de prisão em regime fechado.

“A história do videogame no Brasil é marcada por modificações e adaptações feitas à margem da lei”

“Se considerarmos o que diz a legislação, toda e qualquer modificação na obra autoral, independente do contexto, depende da prévia e expressa autorização do titular do direito. Se essas modificações não foram autorizadas e os programadores as estão distribuindo, estará configurada a violação”, explica o advogado.

Como o documentário da Red Bull “Paralelos” destaca logo em sua abertura, a história do videogame no Brasil é marcada por modificações e adaptações feitas à margem da lei e, apesar de não ser algo bonito de se admitir para alguns, foi graças a esse submundo de pirataria que a cultura dos games foi disseminada por todo o país e por todas as classes sociais. No final das contas, o  famoso “jeitinho brasileiro” está presente até nos games e nos tornou uma das maiores indústrias desse setor.

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Confira todos os vídeos da série Paralelos no site da RedBull

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