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ANÁLISE DE DESPERADOS 3 - Um jogo que não pode passar batido pelos fãs de estratégia

Após lançar Shadow Tactics: Blades of Shogun, que foi recebido de maneira positiva pelo público e crítica em 2016, a desenvolvedora Mimimi Games ganhou da THQ Nordic uma missão importante: criar Desperados 3, um novo título para a clássica franquia de PC. Depois de três jogos feitos pelas mãos da Spellbound Studios, o novo jogo da série foi revelado em 2018 trazendo gráficos renovados. Além disso, a produção conta com uma jogabilidade similar ao título anterior da desenvolvedora responsável pelo projeto. 

Trazendo uma clássica história de velho oeste, o game conta com fases de estratégia em tempo real com até cinco personagens jogáveis. Como o próprio trailer de revelação explica, o jogo é focado em “tentativa e erro” e conta com um sistema que permite salvar e carregar rapidamente durante as partidas, tornando possível testar diferentes formas de encarar cada grupo de inimigos.

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Após mais de 20 horas de gameplay com Desperados 3 e 11 das 16 missões concluídas, eu conto aqui se o game, disponível para PC, PS4 e Xbox One, vale a pena para você.

Introdução

A franquia Desperados estreou no PC no começo dos anos 2000 e se tornou um clássico da plataforma. O lançamento de um novo título da série chamou a atenção de muitos jogadores por causa do fator nostalgia, mas esse não foi o meu caso.

Como cresci literalmente no meio do mato com um PS2 e só tive um notebook capaz de rodar jogos lá por 2012, nunca joguei os títulos da franquia Desperados feitos pela Spellbound. Minha chegada tardia no mundo dos computadores também atrapalhou minha relação com jogos de estratégia e tática em tempo real. Apesar de conhecer títulos icônicos como Age of Empires e XCOM, sempre priorizei outros gêneros na hora de investir minhas horas livres com vídeo game.

O exato momento do trailer de Desperados 3 em que o jogo ganhou minha atenção. (Imagem: THQ Nordic/Divulgação)

Mas por que diabos você resolveu analisar esse jogo, Mateus?” Por acaso, talvez. Antes do lançamento de Desperados 3, a THQ Nordic resolveu liberar uma demonstração gratuita do game no PC na GOG, loja em que eu havia comprado o primeiro Crysis alguns dias antes, durante uma promoção. Vi o anúncio da demo e resolvi baixar a prévia por causa do trailer apresentando o protagonista, que virou notícia no Adrena e me chamou a atenção. Em condições normais de temperatura e ambiente, a demo ficaria encostada no meu computador, ao lado de muitos outros jogos que tenho instalados para testar e nem abro. Porém, acabei ficando sem internet durante um fim de semana e praticamente “fiquei preso” com o RTT, após limpar o mapa de The Witcher 3 e não prosseguir na história do RPG por causa das lives semanais que realizo no YouTube do Adrenaline.

A demonstração possui apenas o tutorial e parte da segunda fase de Desperados 3, o que foi o suficiente para garantir a minha atenção, mesmo que o gênero e a franquia voem abaixo do meu radar. Além disso, o jogo que possui uma cara de “indie” está à venda por R$ 250 nos consoles e R$ 120 no PC. A confiança da publisher em entregar o título com esse valor também me fez questionar: afinal, o título vale tudo isso?

Mesmo perdendo o prazo do lançamento, a THQ Nordic nos enviou uma cópia do game e trazemos aqui, com certo atraso, nossa opinião sobre essa jornada cheia de estratégia no velho oeste.

História

Apesar de a franquia Desperados ter quase duas décadas de vida e o novo jogo da série ter um forte apelo à nostalgia, a Mimimi Games trouxe um game com narrativa amigável para quem não está familiarizado com a história do John Cooper. O terceiro game da série traz mais de 15 fases que mostram a origem do lendário pistoleiro, que acaba montando uma gangue durante uma de suas caçadas de recompensa.

As duas fases do prólogo, que atualmente podem ser jogadas de graça no Steam e na GOG, já dão uma ideia do ritmo da narrativa. Enquanto uma pequena parte da história acompanha o passado de Cooper, a maioria das fases de Desperados 3 trazem o pistoleiro e seus aliados viajando pelos Estados Unidos em busca de Vincent DeVitt e o vilão Frank.

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Desperados 3 é uma experiência totalmente single-player e focada na história, mas não espere uma narrativa inovadora de western. O jogo aposta em clichês icônicos do gênero, que acabam trazendo um tom de humor para a caminhada cheia de sangue do grupo liderado por Cooper. Apesar de ganhar mais profundidade por ser o principal rosto da franquia, Cooper até perde espaço na escala de carisma quando mais parceiros se juntam ao bando.

Além do pistoleiro com passado trágico e atitude badass, o jogo permite controlar logo de cara o Doutor McCoy, um médico que atua como mercenário e usa seus conhecimentos químicos como arma. Em seguida, somos apresentados a Hector, um simpático brutamontes que possui uma relação platônica com sua armadilha de urso. O começo do jogo também conta com a apresentação de Kate Ohara, uma “noiva em fuga” cheia de personalidade e que usa seu charme durante o combate.


Quatro dos cinco personagens jogáveis de Desperados 3. (Imagem: Captura de tela/ Mateus Mognon)

Na metade do jogo, Desperados 3 também revela Isabelle Monroe, uma bruxa que utiliza sacrifícios de sangue e magia para controlar os inimigos, além de ter uma gata como parceira. O elenco variado garante uma cadência interessante para a história, já que boa parte da narrativa se desenrola durante o gameplay, com interações entre os personagens e o ambiente.

Outro ponto interessante são os inimigos fixos de cada fase. Além de servirem como peões para o “jogo de xadrez” que é o gameplay, os soldados possuem interações próprias, que vão desde duelos de pistoleiros até comentários que ajudam a aprofundar o velho oeste em que o jogo se passa.

Gameplay

Enquanto a história cativa com o grupo de personagens carismáticos, a jogabilidade tira proveito da diversidade dos membros da gangue para entregar diferentes habilidades durante os embates estratégicos de cada fase. Desperados 3 abraça as características de cada protagonista para garantir um gameplay que capricha não apenas para quem busca por táticas, mas quem curte stealth.

A Mimimi Games resolveu reciclar as principais mecânicas de jogabilidade de Shadow Tactics: Blades of Shogun e aplicá-las quase que da mesma forma em Desperados 3. Após jogar o título anterior da produtora por meio do Game Pass, ficou claro que o jogo é praticamente um prequel do faroeste quando o assunto é jogabilidade.

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Assim como em Shadow Tactics, o gameplay de Desperados 3 gira em torno da tentativa e erro: munido de um sistema de salvamento manual e carregamento rápido, o  jogador deve enfrentar fases lotadas de inimigos e usar a cabeça para superar a desvantagem. Caso a ideia inicial não dê certo, basta usar o quickload e voltar ao começo. Cada um dos personagens conta com habilidades únicas que funcionam após um tempo de cooldown, enquanto as armas letais (revolveres a escopetas) precisam de refil, que podem ser encontrados ao explorar as áreas. 

Outra mecânica essencial que também foi adaptada de Shadow Tactics é o “Showdown Mode”, que funciona de maneira similar ao “poder” de Sherlock Holmes nos filmes de Guy Ritchie: ao pressionar um botão, o jogador consegue parar o tempo e planejar a ação de cada personagem. Com isso, é possível eliminar diversos inimigos de uma só vez e fazer jogadas de tirar o fôlego, isso se nada der errado.

Enquanto a base é a mesma presente no jogo anterior da Mimimi, a temática de faroeste garante a personalidade de Desperados 3. John Cooper, por exemplo, é o único do grupo a conseguir dar dois tiros, já que é um pistoleiro. Kate, por outro lado, pode se mover livremente entre os guardas quando está usando um vestido de dançarina, pois consegue “seduzir” os soldados. O destaque, porém, fica por conta de Isabelle, que é capaz de conectar inimigos usando magia e até controlá-los, desde que abra mão de um ponto de vida. O toque sobrenatural da praticante de vudu gera momentos empolgantes na jogabilidade e chama a atenção pelas interações que oferece entre protagonistas e inimigos.

 

Quando o assunto é ação, Desperados 3 parece ser bem tranquilo enquanto o jogador se mantém fora da vista dos guardas, apenas estudando suas movimentações. Porém, nos primeiros sinais de alerta, os soldados chamam reforços que são capazes de desestabilizar horas de planejamento. Enquanto a partida fica com uma cara de xadrez ao jogar no stealth, já que os inimigos seguem uma movimentação fixa, ser visto acaba tornando a jogabilidade mais frenética e pode exigir ações rápidas. E, caso tudo dê errado, basta recarregar o último save.

A interface até deixa um aviso bem grande na tela sempre que você fica mais de um minuto sem salvar o progresso. O alerta pode ser um incômodo visual, mas é útil se considerarmos que Desperados 3 não realiza salvamentos automáticos em nenhum momento, nem mesmo quando você troca de fase. Nesse caso, a falta de um autosave é bem incômoda, já que pode fazer você reiniciar uma área por completo caso não tenha criado um checkpoint logo que começou a nova missão.


O jogo te lembra de salvar a cada minuto, mas não cria checkpoints entre fases. (Imagem: Captura de tela/Mateus Mognon)

Para quem já está acostumado com a jogabilidade, Desperados 3 oferece um modo difícil em que o Showdown Mode não congela o tempo, o que garante uma experiência ainda mais desafiadora que o convencional. Porém, a maioria dos jogadores que está conhecendo o gênero já deve se contentar com os desafios oferecidos no modo Normal, que já é bastante assustador. Graças as múltiplas possibilidades de resolver cada cenário, o fator replay do game é gigantesco e você pode revisitar as fases diversas vezes sempre chegando em resultados diferentes. A Mimimi Games também implementou um sistema de pontos e challenges, o que torna o título um bom desafio para quem curte caçar platinas e conquistas.

Se você não é pro-player de RTT, porém, a quantidade de conteúdo pode ser um problema. Durante a minha jornada por Desperados 3, as missões mais robustas chegaram a durar mais de duas horas. Como a mecânica principal do jogo estimula que você vá e volte no tempo, é possível testar várias formas de passar pelos inimigos rapidamente, o que faz o jogo “render”. Graças a variedade do gameplay, que possui fases muito divertidas que integram jogabilidade e história, a experiência não foi cansativa para mim. Porém, é perceptível que as longas sessões de jogo não são para qualquer um. Com isso em mente, mesmo que o jogo se garanta e tenha potencial de agradar quem curte uma boa história de faroeste, é altamente recomendável testar a demo ou até mesmo jogar Shadow Tactics para ver se o estilo de gameplay fecha com seu gosto.

Gráficos e ambientação

Com sua visão isométrica, Desperados 3 não investe pesado nos gráficos e adota uma estética interessante que mostra evoluções em relação aos jogos anteriores da saga. Porém, em alguns momentos fica perceptível que o jogo poderia ter recebido um pouco mais de polimento, como em certas texturas e movimentos dos personagens. Assim como na história, o game também conta com integrações entre o cenário western e a jogabilidade, o que torna a experiência geral agradável, divertida e cheia de surpresas.

Além de permitir que o jogador derrube pedras soltas em inimigos, os personagens fazem barulho ao pisar na água e deixam pegadas ao caminharem na lama. Os clássicos padrões visuais de filmes de faroeste também são utilizados na hora de distinguir inimigos: soldados que usam ponchos ou capas são naturalmente mais fortes e inteligentes, simplesmente porque a vida no velho oeste de Desperados 3 possui essa lei.


Deseperados 3 transporta muito bem o clima de velho oeste para o gênero de estratégia. (Imagem: Captura de tela/Mateus Mognon)

Outro fator que ajuda na imersão é o trabalho de áudio feito pela Mimimi Games. A trilha sonora de Desperados 3 combina com a temática proposta e não é cansativa, algo essencial para um game que coloca o jogador em longas sessões de jogatina. Além das músicas de qualidade, o jogo também conta com uma dublagem excepcional e que rouba a cena. 

Grande parte da narrativa de Desperados 3 flui pelos protagonistas, que possuem um trabalho de voz primoroso. Os atores utilizam um tom de voz clássico de filmes de faroeste para dar vida às frases canastronas que fazem o gênero. Personagens como Hector e Isabelle também contam com sotaques característicos, o que mostra o cuidado da Mimimi Games na hora de realizar a dublagem de cada personagem.

Um detalhe que pode não agradar os jogadores são as falas repetidas dos inimigos. Como certos soldados seguem uma rotina fixa, os diálogos costumam ser os mesmos. Além disso, não existe muita variedade para os comentários de aviso dos guardas. A constante repetição de exclamações como “Troublemakers!” acaba ficando irritante com o tempo, mas também pode ser encarada com um toque nostálgico, visto que os jogos anteriores da franquia possuíam uma quantidade limitada de frases de efeito.

Na parte de otimizações, Desperados 3 faz um bom trabalho e conta com suporte para 4K, que não é tão difícil de ser alcançado, e funciona perfeitamente em monitores Ultrawide. Outro detalhe que merece atenção é a adaptação para controles. A experiência de jogar no PC segue os padrões de jogos de RTT e tira proveito das possibilidades trazidas pelo mouse e teclado. Ainda assim, a experiência no controle também é agradável e traz mais coesão à jogabilidade, servindo muito bem os jogadores de console. Tirando um ou outro deslize, o jogo é bastante intuitivo e fica fácil com o passar das fases, o que é ótimo para um jogo de tática em tempo real.


Enquanto o mouse e teclado são ideias para o gênero, Desperados 3 faz um bom trabalho adaptando o gameplay para o controle. (Imagem: Mateus Mognon/Captura de tela)

Mesmo com um trabalho primoroso de áudio e técnica que não deixa a desejar, Desperados 3 infelizmente não traz legendas em português do Brasil. Considerando que Shadow Tactics possui textos no nosso idioma, existe a possibilidade do game receber o recurso no futuro. Até o momento, porém, tanto a Mimimi como a THQ Nordic não deram um retorno sobre o assunto. 

Conclusão

Com uma história clássica de western, personagens carismáticos e uma jogabilidade desafiadora, Desperados 3 tem tudo para ser um dos jogos mais subestimados de 2020, pois é muito mais do que os olhos podem ver. Graças ao seu visual e gênero não muito convidativos para quem está fora do nicho, o game até pode parecer simples, mas entrega uma experiência complexa, com uma narrativa envolvente e cheia de possibilidades.

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Cada personagem apresentado conta com suas peculiaridades e um charme especial na história e gameplay, o que já foi suficiente para deixar a Mimimi Games no meu radar para futuros lançamentos. Infelizmente nem todos os brasileiros podem aproveitar o jogo com seu máximo potencial, já que Desperados 3 não possui legendas em português e não existe estimativa para uma futura localização. 

Para quem curte games de tática em tempo real, Desperados 3 é compra obrigatória, principalmente se você curtiu o projeto anterior da Mimimi. Já os jogadores de primeira viagem no gênero devem estudar se vão conseguir encarar esse banquete, que é delicioso, mas leva tempo e paciência para ser consumido. Ainda assim, graças as adaptações feitas pela Mimimi Games e o carisma presente em sua história e personagens, o jogo também pode ser considerado uma ótima porta de entrada para o gênero.

Com isso em mente, a dica para os gamers de fora da bolha dos RTT é ficar de olho nas promoções e dar uma chance para a demonstração de Desperados 3 no PC, além de experimentar Shadow Tactics, que pode ser jogado no Game Pass de computador e já foi dado pela Epic Games Store. Apesar de Desperados 3 valer cada centavo para quem curte, investir até R$ 250 em um jogo às cegas é tão perigoso quanto ficar parado atrás das patas de um cavalo.

Prós

Personagens carismáticos

História acessível para novos jogadores

Jogabilidade cheia de possibilidades

Trilha sonora e dublagem

Contras

Falta de autosave entre fases

Falas de inimigos se repetindo

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