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ANÁLISE DE THE LAST OF US PART II - Game luta pra fazer justiça ao legado do primeiro

The Last of Us foi um dos principais lançamentos para o PS3, que chegou quase no fim da geração e logo se tornou um nome com um peso imenso para a marca Playstation. Sendo assim, parece que uma continuação seria inevitável, pelo menos do ponto de vista financeiro. Mas será que The Last of Us Part II justifica sua existência também pelo ponto de vista do conteúdo? Vamos discutir isso nessa análise*!

Agradecemos aos representantes do Playstation no Brasil pelo envio de um código para análise antecipada.

*Neste texto levo em consideração um cuidado maior que o de costume com spoilers. Não serão detalhados trechos que não tenham sido mostrados nos trailers de divulgação, mas alguns jogadores realmente puristas podem preferir não saber como funcionam algumas novas mecânicas do game. Deste modo, usuários que comentarem com spoilers serão sumariamente banidos, sem aviso prévio. Fica aqui o aviso.

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História e Ambientação

O enredo de The Last of Us Part II é a parte mais importante do game e, por isso, a parte mais difícil desta análise. Vou ter que ser bem vago neste trecho de propósito, mas espero passar a sensação geral que tive com a história do jogo.

Quem tem acompanhado os trailers e divulgações, sabe que a protagonista dessa continuação é Ellie, agora com 18 anos e uma predileção por violões. Jogamos com a jovem numa jornada, fazendo novos inimigos pelo caminho, além de revisitar os bons e velhos contaminados.

A história se encaixa naturalmente com o primeiro de uma maneira coerente. Não é apenas um acontecimento aleatório que daria muito uma sensação de “só pra fazer uma continuação”. O início do enredo faz sentido e se mantém fiel à personalidade de seus personagens. É interessante que, logo de cara, percebemos que o “elenco” deste jogo é bem maior. Tudo na parte 2 é maior, mas maior não é sinônimo de melhor.

A campanha tem um ponto de partida excelente, mas não se desenrola de uma maneira tão natural como o primeiro game. Muitos dos acontecimentos parecem um pouco arbitrários e algumas coincidências incríveis acontecem para que possa aumentar a história do jogo. E também temos diversos momentos em que os personagens tomam decisões burras, que nitidamente só servem para avançar a narrativa. Perdi a conta de quantas vezes a protagonista é atacada pelo lado quando está entrando ou saindo de algum lugar sem tomar o cuidado que nós, como jogadores, tomamos quando estamos jogando.

Também tive a sensação que em mais de um momento o jogo tenta repetir, ou no mínimo “recriar”, algumas das cenas e emoções mais icônicas do game anterior. São momentos bem construídos que certamente chamam a atenção, mas a imersão se quebra um pouco porque fica uma sensação de “já vi vocês fazendo isso antes”. Continuações são complicadas.

Quanto mais o jogo avança, no entanto, menos ele precisa “apelar” pra esse tipo de situação, porque a história se desenvolve e começa a funcionar melhor em si mesma, então é um aspecto positivo que o enredo melhora conforme seguimos a narrativa. A adição de novos personagens também ajuda aqui, tornando as relações mais dinâmicas e nos dando mais pessoas com quem nos “preocupar” para aumentar a tensão das cutscenes. E é uma pena que a parte mais interessante e inteligente do enredo não posso comentar porque é spoiler.

Inclusive, cabe dizer aqui que The Last of Us Part II, possivelmente, é o jogo mais violento que já joguei. Fazendo o “saldo” da violência literal, propriamente dita, com a temática e o contexto de como ela é praticada – ou em quem ela é praticada – o game exige estômago para ser jogado. Logo, sua classificação de “somente para adultos” deve ser levada a sério.

Até onde se justifica uma violência tão explícita está aberto a discussão, mas dá para ver que ela não foi colocada aqui só pelo fator choque. O primeiro The Last of Us tinha uma mensagem sobre o que é ser humano e o que define humanidade, enquanto o segundo martela (ops) o tema do ciclo da violência. E o game é bem menos sutil para fazer isso, seja mostrando ou fazendo seus personagens praticamente dizerem em voz alta a mensagem geral do enredo.

Para encerrar esse trecho, vale uma reflexão. The Last of Us Part II deixa bem evidente algo que ficou meio “por cima” no jogo anterior. O cordyceps é apenas um “catalisador”, não foi o fungo que acabou com a humanidade. A humanidade acabou com a humanidade.

Gameplay

A jogabilidade no novo The Last of Us mantém sua estrutura principal em relação ao primeiro game, mas faz algumas mudanças que deixam os personagens um pouco mais “soltos”, com movimentos mais leves e ágeis. Também muda um pouco o que dá para fabricar em termos de equipamento e ferramentas, mas essa parte mal faz diferença.

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Claro que a principal mudança é a habilidade de pular. Ellie não fica restrita a ações contextuais para subir nos lugares, o jogador pode pular a qualquer momento e a personagem vai subir onde alcança. Essa versatilidade é muito bem-vinda para expandir as possibilidades do gameplay, mas nem sempre ficou muito bem implementada. Em alguns momentos, principalmente na solução de puzzles de cenário, fica bem visível a influência de Uncharted. E você definitivamente não quer sentir que está jogando algo leve e jovial como Uncharted quando está em The Last of Us, os temas colidem e não funcionam juntos. Então é positivo o fato de que isso é bem mais forte no início do game, mas vai diminuindo ao longo do tempo.

A mobilidade extra, que também é ajudada pela nova habilidade de se deitar, brilha mesmo nas situações de combate do game, seja quando você está sendo furtivo, enfrentando tiroteios ou fugindo. Nesses momentos é interessante ter mais opções de deslocamento para se mover pelos cenários e escapar de seus inimigos – ou emboscá-los. Esses cenários, aliás, evoluíram bastante para aproveitar essa nova mobilidade, dando ao jogador uma grande variedade de opções de como encarar os encontros. O level design está realmente impressionante e adiciona muita imersividade aos combates, além de ajudar a oferecer mais variedade em cada novo enfrentamento. Isso é especialmente aproveitado pela adição dos cães em algumas partes, que tornam a vida dos jogadores furtivos um inferno, mas no bom sentido. A capacidade dos cachorros de farejar onde Ellie está sem precisar vê-la faz o jogador se manter em constante movimento e aproveitar melhor as novas habilidades da personagem, bem como o excelente level design dos cenários.

– Aviso: este parágrafo pode ser considerado spoiler pelos mais puristas que não querem saber nada do jogo, mas ainda me atenho a informações que aparecerem nos trailers. -Considero também que foi muito bem implementado o uso de diferentes facções entre os humanos, melhor do que no game anterior. Cada uma dessas facções usa diferentes estratégias e armamentos, de modo que, quando se inicia um novo encontro, o jogador talvez tenha uma abordagem diferente dependendo da facção que está enfrentando, e isso é muito interessante.

De todo modo, a estrutura central de The Last of Us não mudou. Podemos dizer que a quantidade total de gameplay aumentou bastante, o que deve agradar quem foi mais crítico em relação a isso no jogo passado. Temos mais cenários abertos na parte de exploração, inclusive até uma parte que quase ensaia um pequeno “mundo aberto”. Porém, em termos gerais, ainda é um game com foco pesado na história e a experiência geral dos encontros e combates, mesmo com mais mobilidade, ainda é a mesma, inclusive na criação de itens e possibilidade de melhorar habilidades. Ou seja, quem gostou vai continuar gostando, quem não gostou, não tem muitos motivos para mudar de opinião com este.

Aqui deixo uma pequena crítica à falta do multiplayer. Quando o modo foi anunciado para o primeiro título da franquia, senti que seria não combinava com a ideia do jogo e que só estava sendo colocado porque todo game devia ter, obrigatoriamente, um modo multiplayer na época. Para minha feliz surpresa, eu estava errado, o multijogador em Last of Us provou que foi feito com bastante cuidado e que merecia estar ali.

Com certeza este modo não vai fazer falta para maioria dos jogadores, mas a Naughty Dog já tinha a fórmula pronta, era só implementar de novo aproveitando seus cenários lindamente construídos para umas partidas competitivas.

Gráficos

Os gráficos de The Last of Us 2 são impressionantes, como muita gente já percebeu nos trailers. Não chega a ter o mesmo impacto que o primeiro game teve, é mais dentro do esperado para o que se consegue em jogos atuais, mas não deixa de ser um belo espetáculo.

Como sempre, a Naughty Dog investiu pesado na ambientação, que é uma parte tão importante para The Last of Us. Falei por cima na parte de gameplay como é bom o level design desse jogo, que realmente merece elogios, oferecendo uma grande variedade de maneiras de se mover de um ponto a outro nos confrontos, mantendo o jogador subindo, rastejando, passando em frestas e mantendo a sensação de tensão e suspense que são cruciais ao game.

E tudo isso com a estética consagrada no primeiro jogo e expandida agora, da beleza na destruição –  a retomada da natureza depois do apocalipse. Uma das partes mais legais de admirar o cenário de The Last of Us continua sendo a nossa capacidade de imaginar o que aconteceu num determinado local por causa da situação que o lugar está quando chegamos nele. É uma história sendo contada apenas pelo visual. E isso só é possível com um trabalho incrivelmente dedicado, desde seu planejamento à sua implementação no game. Alguns trechos passam a sensação de que estamos jogando numa daquelas paisagens bonitas que procuramos para fundo de tela do computador.

A mesma coisa com a textura dos rostos, e a expressividade, completamente importantes para um jogo que quer contar uma história tão emocional. Não só os protagonistas, mas até dos inimigos. Ajuda demais no impacto e tom geral do game ver a expressão de desespero de uma vítima enquanto Ellie rasga a garganta da pessoa com um canivete.

Vale elogios também a qualidade da otimização de The Last of Us 2. Claro que isso não é mais do que a obrigação quando falamos de um game exclusivo, mas ver um título com esse nível gráfico rodando fluidamente e sem engasgos num vídeo game é até um alívio. Só esteja pronto para a “gritaria” do ventilador do seu Playstation – o console roda o jogo bem, mas não sem “reclamar”.

Áudio

Para um jogo com o tamanho do investimento e importância como a continuação de The Last of Us, a qualidade técnica do áudio é algo mais do que esperado – e o game entrega. Não só isso, mas a parte de áudio é extremamente importante em Last of Us, seja para absorver o jogador para dentro da história, ou no próprio gameplay mesmo.

Gustavo Santaolalla retorna com seu violão trágico e comovente, casando perfeitamente com o mundo em que vivemos quando jogamos os games dessa série. Mais do que isso, é interessante como a Parte II conseguiu integrar algumas músicas ao jogo, não apenas como trilha, mas como parte ativa do processo de contar a história, entregando alguns dos momentos mais comoventes da campanha.

Igualmente importante é o trabalho de som ambiente, tanto para o suspense como para lhe ajudar no gameplay, e a Naughty Dog impressiona aqui também. Principalmente no suspense, quando você está sendo cuidadoso com cada passo e pisa numa madeira diferente e leva um susto pensando que era um Clicker. O modo escuta se tornou uma ferramenta obrigatória neste game, mas os devs tomaram cuidados para que ele não seja uma “solução absoluta”. O modo escuta dos seus próprios ouvidos ainda vai ser igualmente importante, então o nível técnico é tão bom quanto precisa ser, lhe ajudando a localizar seus inimigos mesmo quando a Ellie não consegue identificá-los.

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Só é um pouco complicado falar da dublagem. Em inglês é tão boa quanto possível, afinal temos uma interpretação de profissionais carimbados com captura de movimentos, é como ver as pessoas mesmo atuando. E é um trabalho muitíssimo bem feito.

Em português dá para ver que temos ótimos profissionais fazendo, também, um excelente trabalho, mas parecem atrapalhados por causa da mania das produtoras de não deixarem os dubladores verem a cena que estão interpretando, ou o contexto dela. Algumas entonações saem estranhas para o momento em que a conversa está acontecendo, enquanto algumas falas chegam a ser traduzidas de maneira equivocada porque o tradutor evidentemente não sabia o contexto da fala. Isso não é um exemplo do jogo, mas imagine que uma pessoa precise traduzir “a bat” num diálogo sem nenhum contexto. Pode ser um morcego ou um taco de baseball e, sem ver a cena, não tem como o tradutor saber.

Torno a dizer, o jogo em português também está ótimo e você vai entender toda a história sem nenhum problema. Minha crítica é mais no sentido do trabalho esforçado dos dubladores sendo atrapalhado por uma regra que não devia mais existir há tempos.

Conclusão

The Last of Us Part II é mais do mesmo, mas essa frase redutiva precisa ser bem interpretada. O “mesmo” que estamos falando aqui é um dos melhores games da geração passada, com um nível técnico de gráficos e qualidade de áudio completamente acima da média, e uma história incrível e impactante que vai ficar para sempre na memória de quem curtiu o jogo. Só por retomar essa experiência, ainda que de forma mais ou menos repetida, o game já merece ser recomendado.

Dito isso, não espere ter o mesmo impacto que o primeiro game ofereceu. The Last of Us tinha o fato de ser uma experiência única e inovadora a seu favor, e isso é simplesmente impossível de repetir numa sequência. A história da Parte II, mesmo sendo excelente, não conseguiu me conectar com a mesma força que aconteceu no primeiro, o que deixou toda a jornada um pouco menos envolvente.

Um retorno digno ao mundo pós-apocalíptico mais realista dos games

Ainda assim, o enredo é forte o suficiente para garantir nossa atenção do início ao fim e as mudanças no gameplay ajudam a manter cada encontro novo e diferente. As novidades na mobilidade do personagem e os trechos de furtividade tendo que fugir daqueles malditos cachorros (que eu não queria matar de jeito nenhum) foram um ótimo destaque, e as variações de facções ampliaram a profundidade da história e da jogabilidade. Em termos de gameplay, aliás, posso dizer com tranquilidade que a Parte II supera o primeiro game, não só em quantidade, mas também em qualidade.

Resumindo, The Last of Us Part II é um excelente jogo que faz por merecer, principalmente quando nos encaminhamos para os “finalmentes” da história. Considero o game anterior uma experiência mais “amarrada” e coerente, mas sua continuação não deixa de ser recomendação certa para quem curtiu o anterior e para os fãs de jogos de suspense com foco pesado na narrativa.

Prós

Mobilidade extra melhora o gameplay

Excelente level design

Ótimos gráficos e paisagens memoráveis

História marcante e comovente

Contras

Tropeços no desenvolvimento do enredo

Alguns pequenos problemas de tradução e dublagem

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