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Days Gone é um jogo de sobrevivência e horror em mundo aberto exclusivo para Playstation 4. Quando foi apresentado na E3 2016, lembro da reação daqui da redação Adrenaline: lá vem mais um jogo de zumbi. Com o gênero mais que saturado por uma enxurrada de jogos e produtos culturais com a mesma temática, natural surgir um certo ceticismo que algo de novo possa sair de uma premissa já tão batida. Mas, felizmente, mesmo uma fórmula bem desgastada pode ter algo para oferecer se bem-executada. Vamos explicar mais a fundo no restante da análise!

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História e ambientação

Os apocalipses zumbis estão mais que sedimentados no imaginário popular, e isso até ajuda a resumir o jogo de forma mais eficiente. Os zumbis são do tipo que corre. Eles são atraídos por som e movimento. A sociedade ruiu e as pessoas se tornam tão ou mais perigosas que os zumbis. Algumas comunidades se formaram tentando manter condições mínimas de sobrevivência para seus moradores. Como pode ver, muito de Days Gone está apoiado em temáticas que já são bem consolidadas.

{quote}Days Gone parte de um gênero que já está bem
saturado, e não traz muitas novidades{/quote}

Mas agora vamos para as coisas que diferenciam Days Gone. Mais especificamente o jogo se passa no Oregon e tem um motociclista e “cara durão” Deacon St. John como protagonista. Ele sofre de um caso de “Síndrome do Sobrevivente”: com o início da infestação por zumbis, acabou tomando uma decisão que o separou de sua mulher, Sarah, e enquanto ele sobreviveu, ela nunca mais foi vista. Esse sentimento de culpa não declarada está entre os alicerces centrais do personagem, junto com sua lealdade ao amigo, membro de seu clube de motociclista e outra pessoa crucial nos acontecimentos da noite em que Deacon e Sarah se separaram.

Por usar como cenário um ícone pop tão consolidado, o apocalipse zumbi, um dos pontos positivos do jogo é que ele não explica muita coisa. Você já começa a jogar com a situação distópica que muitas outras obras culturais já deram contexto de sobra, então o jogo já parte para a ação com o gamer assumindo as desventuras de Deacon como um “vagabundo”, apelido dado a pessoas que vagam pelo mundo encarando os perrengues de sobreviver aos “frenéticos”, nome dado aos zumbis, porque aparentemente toda obra cultural precisa inventar um nome novo para isso (seja caminhantes, infectados, etc), talvez até para tentar escapar do quanto o conceito já foi repetido à exaustão.

Ao longo do jogo o personagem principal e seu amigo precisam lidar com as dificuldades de viver em um mundo inóspito e na medida que o jogador avança na história, vai ficando mais clara as complexas relações entre as pessoas e as comunidades que tentam sobreviver ao caos. E nesse aspecto o game se sai bem, apesar de alguns momentos estranhos.

{quote}A história vai desenvolvendo os conflitos e personagens
e vai progressivamente cativando o jogador{/quote}

Progressivamente o jogador vai entendendo os vínculos de Deacon com outras pessoas do mundo de Days Gone, e na medida que o enredo vai evoluindo alguns personagens vão ganhando carisma e você passa a se importar com eles, mérito da qualidade técnica que vamos comentar nos gráficos e de um roteiro bem construído… A maior parte do tempo. 

Eu incluo essas reticências porque a narrativa tem alguns momentos estranhos. Há missões que surgem aparentemente sem motivo, possivelmente porque o jogo falhou em colocar algum diálogo pelo rádio e fiquei sem contexto. Outras missões são incrivelmente anti-climáticas, como em duas ocasiões em que o jogo deu o objetivo de “dar um confere” como estavam algumas pessoas. Depois de se deslocar até lá, descubro um singelo diálogo de menos de 2 minutos com um seco “e aí tudo bem? tudo” seguido do aviso que a missão havia sido cumprida.

{quote}A narrativa tem alguns desenvolvimentos
esquisitos e momentos anti-climáticos{/quote}

Tirando esses pequenos detalhes que eventualmente tiram a fluidez da narrativa, em geral a história de Days Gone é bem construída e impele o jogador a querer saber qual será o desfecho. Na medida que você vai entendendo os conflitos existentes no mundo do jogo e vai conhecendo os personagens envolvidos e vai se apegando a eles, cresce a motivação em descobrir como serão resolvidos os conflitos entre múltiplas pessoas, as disputas entre as comunidades e a briga interna de Deacon e seu passado. 

Gráficos

Um dos pontos altos do game são os gráficos, e o grande destaque são os personagens. Com feições bastante detalhadas e com muita expressividade em seus rostos e movimentos, eles dão muita vivacidade aos diálogos e transmitem de forma bastante interessante as emoções em momentos tão críticos como a sobrevivência em um ambiente hostil. As roupas, acessórios e armas também foram desenvolvidos com bastante esmero, e o resultado final é especialmente notável nos closes durante os diálogos.

{quote}As expressividades dos personagens são
o grande destaque do visual do jogo{/quote}

Mas o cenário não fica muito atrás, e as localidades do jogo também receberam bastante dedicação. O mapa tem diversas paisagens belíssimas, com um visual bucólico e recheado de pequenas vilas interioranas. O jogo é recheado de lagoas, rios, cavernas, montanhas e colinas que combinados com as diferenças de luz com a passagem do dia mudanças climáticas formam uma excelente localização para o game. As comunidades e as cidades do jogo não são muito grandes, em partes devido a própria localidade escolhida para o jogo, e senti falta de uma quebra maior no visual do game do que o jeitão matagal que domina os locais que o jogo se passa.

{quote}As localidades têm belíssimas paisagens, mas
ficam um tanto repetitivas depois de várias horas{/quote}

Os monstros são “as estrelas da festa” em um jogo de horror e sobrevivência, e o tom mais sério que os desenvolvedores tentaram trazer a Days Gone acabaram limitando a excentricidade das criaturas que você encontra pelo mapa. A maioria são frenéticos (basicamente um zumbi, não muito deformado para os padrões de zumbis) e pequenas variações que não mudam tanto assim seu visual. No “cardápio” temos até inimigos bem normais como lobos e ursos na lista de ameaças ao jogador. Em geral, o visual deles é bastante desinteressante e um tanto monótono.

O design dos monstros é um tanto monótono

Quem recebeu muita atenção foram as motos. Além de ser um elemento central entre protagonistas da história, com “Booze” e Deacon sendo membros de um motoclube, por algum motivo as motocicletas são o meio de transporte de praticamente todos os personagens relevantes do jogo. Days Gone dedica bastante atenção à moto, com vários upgrades possíveis, muitos deles meramente estéticos. Além de parte importante do life style do protagonista, as motos acabam se tornando um elemento central do gameplay. Então partiu comentar a jogabilidade!

Gameplay

Days Gone tem um balanço muito interessante de exploração do mundo aberto, ação, crafting, sobrevivência e horror.  O jogador tem liberdade para circular cumprindo as missões que está interessado, porém precisa ser cuidadoso para não se expor a diversos riscos.

{quote}Days Gone conseguiu balancear de forma excelente exploração, crafting, combates
e o gênero de sobrevivência e horror{/quote}

Um deles nos traz de volta à moto. Ela é indispensável como meio de transporte nesse amplo mapa, porém ela não é infalível: você precisa controlar tanto o estado dela, pois se estiver excessivamente avariada ela não funciona e irá necessitar de conserto, quanto o combustível. Não dá conta de cruzar o mapa de uma só vez, especialmente sem upgrades no tanque. Isso leva o jogador a planejar deslocamentos maiores, pensando em paradas para abastecimento.

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Precisar sobreviver na “Merda” (nome dado aos lugares inseguros fora das comunidades fortemente defendidas) é uma mecânica muito divertida, pois força cautela por conta do jogador. Descer da moto em um lugar infestado de frenéticos é desgraça certa, e você sempre está pesando a relação custo e benefício de continuar se arriscando na exploração. A equação é simples: X é número de zumbis frenéticos que você dá conta, se você vê X+1 deles correndo na sua direção, melhor dar no pé. É muito interessante avançar pelo mapa sempre mantendo em mente a melhor rota de fuga até sua moto, e a experiência deve ser especialmente desafiante para quem optar por jogar o game nos níveis mais altos de dificuldade.

{quote}Suas incursões pela Merda demandam planejamento e cautela,
especialmente se jogar em níveis mais difíceis{/quote}

O crafting é parte importante do jogo e está implementado de uma forma que acho ótima. Há um conjunto de itens necessários para a confecção de coquetéis molotov, curativos, armas brancas, etc, porém eles não são um conjunto excessivamente grande de tipos de materiais. Ao mesmo tempo que você vai querer revirar todos os lugares atrás de garrafas, querosene e sucata, por exemplo, você não vai ficar perdendo tempo organizando o inventário para fazer essa tralha toda caber, muito menos vai precisar decorar receitas complicadas para cada item: o mesmo menu de seleção de seu equipamento é onde você confecciona os itens, e é o mesmo menu que também mostra os ingredientes necessários e também o que pode estar faltando. Aqui aproveito para elogiar os menus desse game como um todo: eles são simples, intuitivos e elegantes. Em pouco tempo você aprende como usá-los, e em poucos segundos você resolve o que precisa e pode voltar a ação, que é o que interessa.

{quote}A organização dos menus está excelente. Simples e direta,
não faz o jogador perder muito tempo organizando as coisas{/quote}

O jogador tem liberdade para resolver as tretas na Merda (não é sempre que posso escrever essa frase, então estou aproveitando) de forma silenciosa, usando abates surpresa para não ser detectado, ou pode partir para abordagens mais barulhentas, com uso de combate corpo-a-corpo ou armas de fogo. O combate é provavelmente a minha parte favorita do jogo junto com os cuidados para sobreviver pela Merda. 


Acho que não é assim que a física funciona

Há uma grande quantidade de coisas a se fazer. Além da campanha principal e todas as missões para evoluir o enredo, o jogador pode fazer atividades paralelas, muitas vezes buscando ganhar o respeito das comunidades que tentam sobreviver ao apocalipse. São atividades como caçar renegados, buscar recursos em centros de triagem do início do combate à infecção, se livrar de infestações ou acabar com campos de salteadores. Além de liberar funções como viagem rápida e reduzir a infestação de frenéticos, essa atividades liberam créditos para compra de itens e “moral” com o acampamento, indispensável para que novos itens sejam oferecidos pelos mercantes.

{quote}O jogo eventualmente dá umas bugadas e tem leve
travamentos, mas não chega a comprometer a experiência{/quote}

Mesmo sendo uma das coisas que mais gostei, o gameplay enrosca em alguns problemas técnicos. A inteligência artificial tem seus momentos negativos, especialmente nos momentos que os inimigos precisam traçar trajetórias até você. Não é raro ver algum zumbi enroscado contra um item do mapa, ou um inimigo pegando cobertura do lado errado da proteção, ou simplesmente girando no próprio eixo, meio perdido de onde devia ir. A física tem suas eventuais esquisitices, junto com eventuais problemas de desempenho. Jogamos no PS4 Pro para essa análise, e se você avança muito rápido pelo mapa, eventualmente vai encontrar engasgos e leves travamentos momentâneos. Junto com os carregamentos longos, estão entre alguns aspectos técnicos que não comprometem a experiência, mas que podiam estar melhores.

Áudio

A parte sonora está muito bem resolvida em Days Gone. Os efeitos sonoros de tiros, motores de motos, lacerações causadas por armas cortantes e aquele som de tomate sendo pisado que zumbis adoram fazer estão em excelente qualidade. Destaque para o bom trabalho feito na interação do som com o cenário, com efeitos de eco e sensação de profundidade quando a fonte de som está mais distante ou em um ambiente mais fechado. Principalmente para quem for jogar em um nível de dificuldade mais alto e não terá tanto auxílio da HUD, a direção do som será um recurso importante, então use fones.

Um trabalho sério que a Sony tem feito no mercado brasileiro é a localização para nosso idioma, e novamente temos o português brasileiro não apenas nos textos, mas também na dublagem. O trabalho está em altíssimo nível, com as atuações entregando o tom e as emoções corretas para dar a carga emocional para as cenas.

{quote}Destaque para a excelente localização em
português brasileiro, que está em alto nível{/quote}

As trilhas sonoras são usadas com parcimônia, deixando a imersão do som da mata, dos rios e dos zumbis povoarem seus fones ou as caixas de som de sua TV. Em alguns momentos mais pontuais entram em ação algumas músicas, seja acordes modestos de violão para dar emoção a alguma cutscene, seja uma música mais empolgada para dar mais força a uma perseguição ou um momento de ação. No geral, esse game está recheado de acertos, com boas canções em momentos pontuais, e deixando a imersão sonora no mundo de Days Gone povoar o áudio em vários outros.

Days Gone chove no molhado. A fórmula de um mundo pós-apocalíptico, sociedade corrompida, humanos se tornando pior que monstros e protagonistas vivendo o dilema de seguir a moral do mundo civilizado ou sobreviver são uma temática bem batida e beirando a exaustão. Na ponta do gameplay, o jogo também não inventa nada muito diferente, com elementos de crafting, sobrevivência, game de tiro e partes stealth praticamente fechando o bingo do game moderno. Só não gabarita porque ainda não ganhou um modo battle royale nem micro-transações. Ainda bem.

Mas fazer tudo que “já está por aí” não impede o jogo de ser bom. Ele junta esses múltiplos elementos de forma competente e entrega um game que é bom de ser jogado. O enredo e os personagens são interssantes e impelem o jogador a continuar para descobrir o final da história. As incursões pela Merda são interessantes e a moto talvez seja o elemento diferencial do game mas, sendo só ela, já dá para notar como o jogo realmente não traz algo mais marcante para se destacar. 

Days Gone não traz elementos inovadores, mas combina gêneros e mecânicas de forma eficiente que resultam em um bom jogo

Mesmo sem trazer nada de novo para a mesa, juntar de forma eficiente todos esses elementos fazem desse um bom game de zumbis (apesar de não chamar eles assim) e que é algo fortemente recomendado para quem curte essa temática ou para algum jogador que goste dessas características, como o gênero survival horror ou um game de ação com enfoque no desenvolvimento da história e exploração do mapa em um mundo aberto. Para quem não se encaixa em nenhuma dessas descrições, Days Gone é um bom jogo, mas não se diferencia o suficiente para considerarmos um game indispensável para sua coleção.

Prós

Excelentes gráficos especialmente nos personagens

Exploração do mundo aberto desafiante

Desenvolvimento do enredo e personagens

Menus e interfaces intuitivas

Dublado em português brasileiro

Combates interessantes e com diferentes abordagens possíveis

Contras

Gênero manjado e sem trazer novidades

Eventuais bugs e problemas de performance

Algumas missões repetitivas

Inteligência artificial às vezes meio perdida

Conclusão

{notas}

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