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Anthem é a atual grande aposta da EA de um “game como serviço”. Ou seja, é o lançamento do momento que vai tentar ter uma grande quantidade de jogadores que ficarão um longo tempo no game e, de preferência para a produtora, gastando dinheiro nele. Sendo assim, o jogo tem uma belíssima apresentação, com gráficos incríveis e momentos épicos, além de uma jogabilidade dinâmica e bem-feita. Mas sua recepção não tem sido das melhores entre os críticos. Confira a opinião do Adrenaline nessa review!

Resumo técnico

– Plataforma: PC, pela Origin
(Ryzen 5 1600 + GTX 1070 + 8GB de RAM)
– Horas jogadas: 19
– Satus do game: Lança “Tempestade Especial” com 246 de potência
Campanha completa, boa parte das missões opcionais também. 

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História e Ambientação

Antes de falar da história e da ambientação de Anthem, é importante esclarecer que lore não é a mesma coisa que enredo. E este game é um ótimo exemplo pra explicar isso porque ele tem toneladas de lore, nem tanto de história. 

É possível encontrar inúmeros itens que acrescentam páginas e mais páginas ao seu Codex, basicamente uma enciclopédia de Anthem. Não apenas os aspectos do mundo do jogo e do funcionamento da sua sociedade, mas também biografias pessoais para personagens, dos mais centrais aos coadjuvantes, podem ser encontradas para depois serem lidas. Dá pra passar umas boas horas apenas com o texto em Anthem. E isso realmente parece o setor de roteiro da BioWare dando vazão à sua energia criativa, já que não teve tanto a chance de fazer isso no gameplay em si.

A história do game, seu enredo central, não aproveita bem toda essa construção do ambiente. Temos o clássico inimigo raso sem grandes aprofundamentos que, por algum motivo, é absurdamente poderoso, e ele está recolhendo relíquias misteriosas para ficar mais absurdamente poderoso ainda, então seu grupo, o Dominion, precisa ser impedido. Você joga como um freelancer, uma espécie de “mercenário do bem”. Equipado com sua armadura Lança, seu personagem aceita missões variadas em troca de dinheiro nas perigosas terras de um planeta inóspito. Não demora muito para seus talentos serem notados por representantes importantes do governo e dos militares, então você acaba envolvido na trama contra os vilões.

A história e o gameplay ficam um tanto isolados um do outro, e o profundo lore não é bem aproveitado

É complicado falar do enredo e da ambientação de Anthem porque este é um jogo que constantemente “diz” uma coisa e “faz” outra. Por exemplo, o jogo diz que os freelancers “decaíram”, que não são mais considerados heróis e que sofrem preconceito por realizar todo tipo de missão por dinheiro. Na prática, você passa o game todo sendo tratado como um grande herói e basicamente todo mundo trata seu personagem como um grande amigo. 

Uma coisa que acaba contribuindo muito para a história ficar menos impactante é que ela é muito “deslocada” do gameplay. Você tem os momentos de jogatina, realizando as missões com sua armadura no mundo aberto do game, e depois tem os momentos de história, andando pelo Forte Tarsis com a perspectiva em primeira pessoa e conversando com os NPCs. As coisas ficam tão separadas que até lembra um pouco a dinâmica de ir pro futuro, ou melhor, para o “presente” na série Assassin's Creed. Parece que você saiu da simulação e agora está conversando com as pessoas no mundo real, onde as coisas não parecem tão problemáticas como dizem os personagens. Aliás, essa sensação de que “na verdade está tudo bem” fica potencializada pela atitude “descolada” da maioria dos personagens, fazendo piadinhas e se comportando, no geral, como se estivessem num filme de ação pra toda a família.

E, sendo um jogo da BioWare, Anthem conta com escolhas em seu diálogo. Mas, diferente de outros games da desenvolvedora, as escolhas aqui não servem pra quase nada. Muda somente o que o seu personagem fala e um pouco da resposta que você recebe. Além do fato da maioria das conversas com NPCs serem completamente opcionais e dispensáveis, o que enfatiza ainda mais como a história desse jogo é “deslocada” e volto à minha afirmação da diferença entre lore e enredo.

Sem uma história que empolga, toda a quantidade de texto do jogo acaba sendo desperdiçada. Não dá vontade de saber mais sobre este mundo e seus personagens ou participar de inúmeras conversas pra se aprofundar nas vidas deles sem um enredo que engaje o jogador. Como um estímulo extra, você ganha pontos de “lealdade” com as diferentes facções de Anthem quando você conversa com os NPCs, o que libera itens diferenciados a cada novo nível. Mas isso faz apenas com que o jogador desinteressado fique conversando mecanicamente com os personagens e pulando todas as falas, já que as escolhas no meio do diálogo mal fazem diferença de qualquer forma.

O mal aproveitamento do profundo lore do jogo passa uma impressão que temos ao longo de todo o jogo: que Anthem “segura” conteúdo de propósito. Dá pra perceber enquanto jogamos que o game não entrega tudo que ele tem de uma vez para poder segurar o jogador por mais tempo, reservando coisas para os futuros updates. Isso é uma coisa que quase todo jogo neste formato faz, mas quando fica tão evidente durante o gameplay, é algo que incomoda MUITO.

Vou mencionar aqui também que os problemas nos servidores do jogo também afetam a história, porque muita parte do enredo é desenvolvida nos diálogos durante o gameplay, como uma maneira de tentar associar mais os dois elementos que ficaram tão separados. Assim, quando acontece lentidões ou você fica pra trás numa missão, o jogo vai pular um pedaço dela para colocar todos os jogadores no mesmo local, fazendo você perder várias partes dessas importantes conversas.

Jogabilidade

A jogabilidade, certamente, é a parte mais interessante do game. O grande destaque aqui são as Lanças, que contam com mecânicas realmente variadas e bem construídas. As habilidades e fraquezas se balanceiam muito bem e ficam integradas ao gameplay com um excelente cuidado técnico, que incentiva naturalmente o jogador a exercer a sua função no time, evitando aquele problema do suporte que pensa que é um tanque e vice-versa. Minha Lança preferida, por exemplo, é a Tempestade, que deve ser mais usada como suporte. Para incentivar o uso correto dela num time, a armadura não somente tem a menor defesa de todas, mas também vem com habilidades como escudos melhorados enquanto flutua e mais tempo no ar, o que naturalmente faz você ficar mais na retaguarda, atacando e usando seus poderes de longe. Ao mesmo tempo, a Lança ainda conta com algumas técnicas devastadoras pra você não deixar de sentir que está participando do combate.

Falando no voo, aliás, temos aí outro sistema que ficou muito bem implementado. O jogador pode voar quase que livremente por todo o cenário e o tempo que se pode passar no ar é determinado pelo aquecimento dos propulsores. E essa mecânica é interessante porque lhe permite passar, por exemplo, por baixo de cachoeiras para resfriar a armadura, ou voar diretamente para baixo, permitindo ter uma certa influência da sua habilidade no tempo que você pode passar voando, o que deixa essa parte mais interessante.

Essas partes da jogabilidade que citei até aqui, somadas aos belíssimos gráficos, garantem uma ótima apresentação para Anthem. O jogo começa empolgante e prende, mostrando muito potencial. Mas, conforme o game avança, não o vemos avançar e aproveitar esse potencial, fazendo a experiência da sua primeira missão e da centésima serem bastante parecidas, o que vai matando aos poucos a empolgação com o título.

A variedade das lanças e suas habilidades é a melhor parte do gameplay

Anthem é um jogo “estilo skinner box”. Isso significa que seu gameplay consiste, basicamente, em repetir as mesmas ações em troca de recompensas. A diversão neste tipo de jogo, e o que dá vontade de jogar, é ficar cada vez mais poderoso e a curiosidade do que vai vir no próximo loot, a empolgação com os “brinquedos novos” obtidos após cada missão. Por isso, acredito que Anthem tem dois grandes problemas “internos” que comprometem sua jogabilidade atualmente: a qualidade das armas e justamente esse loot. E há um problema “externo” também, dos servidores.

Enquanto as habilidades das Lanças são variadas e divertidas de usar, no fim do dia, você passa mais tempo atirando do que qualquer coisa, então as armas deveriam ser igualmente interessantes, só que na campanha elas não são. Temos alguma variedade nos modelos, e elas oferecem alguns ganhos de status, mas tirando o rifle de precisão ou uma escopeta que realmente podem mudar a forma que você joga, novas armas mal fazem diferença. Na maior parte do tempo o jogador vai apenas optar pelo modelo que tiver o número maior de dano e a usar normalmente. Não há aquela empolgação em conseguir armas novas do tipo “o que essa aqui faz e como vou adaptar minhas táticas se eu quiser usá-la”. Depois de terminar a história principal, os níveis das armas recebidas melhora, entregando mais variedade nas melhorias como um rifle que enche seus escudos imediatamente quando esvazia o pente, por exemplo. Isso melhora muito a variedade das armas, mas é extremamente frustrante que as habilidades realmente boas tenham ficado reservadas somente para os dois níveis mais elevados de raridade de equipamentos.

Falta variedade nas armas de fogo e o sistema de customização está deserto

Já o problema do loot pode estar sendo resolvido conforme escrevo essa análise, já que Anthem é um game em constante transformação, algo que vou comentar melhor na conclusão. Mas, na minha experiência com o jogo durante a campanha, o loot é mesquinho demais. Você não consegue novos itens que sejam realmente interessantes, apenas mudando aos poucos algumas partes e crescendo sua força na mesma medida que a dificuldade aumenta, o que torna as missões bastante iguais durante todo o jogo. Além disso, o jogo simplesmente não entrega nenhum item cosmético no loot. Acho difícil defender que “cosméticos não importam” em Anthem, já que o game se vende tanto, justamente, pelo visual das Lanças. Mesmo dentro do game em si, Prospero, que é o personagem que lhe vende esse tipo de item, repete inúmeras vezes “é aqui que fica divertido” quando você entra na parte da Forja para customizar sua armadura. Conseguir novos itens cosméticos em cada missão certamente incentivaria muito a realização delas para deixar sua Lança do seu jeito, mas esses itens simplesmente não estão prontos. A EA já colocou no roadmap de updates que pretende trazer baús de itens cosméticos neste mês, mas já temos mais de duas semanas do lançamento. Deixar uma parte tão importante para depois, depois que tantos jogadores já terão terminado a campanha, realmente me fazem pensar que este jogo não foi lançado pronto.

Como mencionei por cima, no entanto, a BioWare está criando updates constantemente para o jogo, algo inclusive que atrapalhou as chances de jogar para a análise, por causa dos downloads constantes. A parte de loots, principalmente, pode ser consertada num desses patches futuros, mas, como estão no momento, as recompensas do game realmente não empolgam e não dão vontade de continuar jogando.

Preciso mencionar também os servidores, outra parte que pode se melhorada no futuro e algo que atrasou demais conseguir terminar a análise do game. Foram um tanto frequentes as falhas no servidor que me fizeram perder missões inteiras ou ficar simplesmente horas sem conseguir abrir o jogo. Além de me fazer perder partes da história, como mencionei antes. 

Gráficos

Os gráficos de Anthem são uma das melhores partes do jogo. O visual do game é completamente espetacular, seja na variedade dos biomas do planeta onde realizamos o gameplay, ou a complexidade da organização das pessoas no Forte Tarsis. O nível de detalhamento em cada Lança, os efeitos de iluminação e de partículas e excelentes expressões faciais realmente impressionam no game. E fazem dele um tanto pesado também, algo a se levar em conta principalmente por quem pretende jogá-lo no PC.

Jogando no setup mencionado nessa review, o game oscila bastante, conseguindo se segurar nos 60fps apenas nos cenários mais fechados, como em cavernas ou estruturas do tipo. No mundo aberto, principalmente enquanto o personagem voa ou realiza um deslocamento rápido, dá pra ver uma queda na taxa de quadros, mas nada muito preocupante ou que atrapalhe demais o gameplay. O jogo continua bem acima dos 30fps em qualquer situação. 

Anthem é um jogo lindo

Mas não só a técnica, a estética também merece elogios. O planeta onde jogamos é um lugar lindo, com suas cataratas correndo em florestas entre ruínas e terminando em lagos que podemos explorar submersos, cheios de vida alienígena e colorida. Passear pelo mundo de Anthem no Modo Livre acaba sendo um ponto alto do jogo por esses motivos.

Um problema aqui são as frequentes e longas telas de loading. Até quando a conexão cai e o jogo fecha na sua cara aparece também uma tela de carregamento, o que é bastante frustrante. Outro problema digno de menção na parte dos gráficos é que os inimigos são bastante repetidos. Seus modelos não variam em quase nada, o que não ajuda nem um pouco na sensação de mesmice do gameplay. Seria interessante ver modelos mais variados, especialmente para os monstros que são a vida nativa do planeta, o que daria uma sensação mais profunda de um bioma vivo e diversificado. Também quero mencionar como um ponto negativo a falta de variedade nos gestos dos NPCs com quem conversamos em Tarsis. Eles têm um número bem limitado de trejeitos e os repetem em situações que às vezes não combina, o que mata a imersão.

Áudio

O game fez um trabalho bastante competente em sua parte de áudio. A dublagem tem qualidade, contando com performances profissionais e imersivas, que ajudam as conversas no Forte Tarsis, principalmente, a ficarem bem mais interessantes. O ótimo trabalho da dublagem também ajuda muito a tornar as missões melhores, já que enquanto você faz basicamente as mesmas coisas no gameplay, pelo menos nas conversas do rádio temos alguns diálogos para distrair, gravados com grande dedicação pelos atores. É uma pena que não tenhamos essas vozes em português brasileiro, apenas em inglês.

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A trilha sonora mostra a mesma qualidade técnica, mas falha um pouco em sua inspiração e criatividade. Temos exatamente as músicas épicas e retumbantes que se espera num game desse tipo. E isso quando a música está dando certo, porque temos momentos em que a música não combina muito com a ação que está acontecendo, o que pode distrair ou até incomodar um pouco. 

Já os efeitos sonoros são ótimos. Não há tanta variedade nos sons das armas, mas elas não são tão variadas em si, e os diferentes efeitos das habilidades das Lanças ajudam muito na sensação de empoderamento ao usá-las, principalmente quando liberamos o Ultra, a habilidade suprema da Lança.

Anthem é um game como se espera de um “skinner box” – uma excelente qualidade técnica, mas nem tanta inspiração e qualidade. Uma certa falta de “alma”. Isso, por si só, não impediria o game de ainda ser passatempo divertido para os fãs de multiplayer e jogos expansivos, mas o game é acometido também pela sua falta de variedade nas armas e um sistema de loot que não empolga. E esse são dois “pecados” bem mais complicados de se perdoar nessa estrutura de jogo.

Claro que tanto o loot como a mecânica das armas são problemas que podem ser corrigidos por patches futuros. E isso é algo que a própria EA tem promovido logo no lançamento do jogo: que ele vai receber muitos updates no futuro. E estou mencionando sobre o futuro do game na análise, algo que geralmente não faço, porque essa é a sensação que fica: de que Anthem ainda não está pronto.

E não digo que não está pronto no sentido de mal acabado, ou que elementos centrais estejam faltando. Falo no sentido que dá pra sentir, enquanto jogamos, que os desenvolvedores ainda não colocaram todos os elementos que pretendiam desde o início do jogo. O game dá a impressão que fez o mínimo necessário para garantir seu lançamento, com uma campanha maior do que precisa que segura modos diferentes de gameplay de propósito para lhe dar mais o que fazer depois que termina o jogo. Toda a mecânica de customização, tão promovida pelas propagandas do game, mal está implementada e vai chegar apenas num update futuro, e isso é extremamente frustrante.

Anthem tem potencial, mas vale a pena esperar o jogo ficar pronto antes de comprar

O jogo mostra muito potencial em seu extensivo lore para novas histórias e as habilidades das Lanças são variadas e divertidas. Isso pode ser bem aproveitado ou não pelos updates futuros, então acredito que a melhor recomendação agora é esperar o game ficar pronto antes de investir seu dinheiro.

Prós

Gráficos incríveis

Lanças variadas e divertidas

Voar e explorar mundo é uma grande experiência

Lore profundo

Contras

Missões ficam repetitivas

Armas de fogo não empolgam

Loot um tanto “mesquinho”

Enredo raso

Problemas nos servidores

Falta de itens cosméticos

Microtransações

Conclusão

{notas}

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