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ANÁLISE: Resident Evil 2 Remake

Não é uma missão simples pegar um clássico e refazê-lo. Resident Evil 2 foi lançado originalmente no primeiro Playstation e se tornou um marco no gênero de terror, com um lugar especial no coração dos fãs da franquia (o que inclui esse que vos fala), e agora a Capcom decidiu atualizar esse símbolo para os tempos atuais. Além de ter que lidar com a pressão de precisar agradar aos saudosistas do game original de 1998, o remake tem que acertar onde se moderniza para atingir novos fãs. E fico feliz de afirmar que a empresa acertou em cheio! Prepare-se para dar mais uma voltinha por Raccoon City nessa noite de pesadelos para Claire e Leon.

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Gráficos

Com o jogo original lançado para o primeiro Playstation, é óbvio que um dos primeiros objetivos do remake é atualizar Raccoon City e seus monstros dos gráficos da era dos 32-bit para a última geração de consoles. Felizmente o trabalho da Capcom foi excelente nesse aspecto. Os cenários ganharam uma grande densidade de detalhes, enquanto os personagens tem um bom nível de expressividade. Assim como aconteceu em Resident Evil 7, especialmente nas cenas em que há closes nos rostos, dá para ver expressões faciais um tanto estranhas e um jeitão meio “de boneco” em alguns personagens, mas tirando esses curtos momentos, os gráficos estão em um excelente nível.

O grande destaque vai para o uso intensivo de efeitos de luz e sombra. Foi feito um ótimo trabalho para que as sombras trouxessem expressividade aos cenários, compostos em sua maioria por contrastes muito marcados por luzes fortes e sombras muito duras. O jogador vai precisar muitas vezes ficar direcionando sua lanterna para os cantos escuros dos cenários para encontrar caminhos e itens. Se você fizer o ajuste certinho de seu monitor, terá na falta de luminosidade dos cenários um desafio adicional, além de tomar eventuais sustos com sombras que você mesmo está criando com a lanterna.

{quote}O game manda muito bem no uso do contraste
entre luzes muito fortes e áreas muito escuras{/quote}


Os monstros também ganharam uma atualização de qualidade, com uma boa variedade de zumbis e criaturas surgindo no seu caminho. Eventualmente dá para ver alguns modelos repetidos nos zumbis, mas não é suficiente para comprometer a experiência ou ficar excessivamente repetitivo. A animação está excelente e muito orgânica, então é comum ver um zumbi esbarrando em um objeto, perdendo o equilíbrio ou cambaleando em um padrão inconstante em sua direção, algo que além do visual horripilante torna mais difícil acertar os tiros.

Essa qualidade gráfica é indispensável para criar a imersão desse jogo. As criaturas grotescas difíceis de serem vistas, os cenários escuros, claustrofóbicos e semi-destruídos e a riqueza de detalhes nos ambientes tornam a experiência verossímil, passo indispensável para uma boa história de terror. Os gráficos deixam o caminho pronto para que o gameplay crie a tensão que vai fazer companhia para o gamer o tempo todo.

Gameplay

Talvez o ponto mais crítico de atualizar esse game está no aspecto do gameplay. A mecânica dos games originais, no estilo “tanque”, é totalmente datada e impossível de ser usada hoje. Apesar da boa experiência com games em primeira pessoa, como foi feito em Resident Evil 7, a Capcom optou por trazer o jogo no estilo de tiro em terceira pessoa, e conseguiu se sair muito bem. A primeira característica que tem um impacto na experiência é o péssimo campo de visão do jogador, que acompanha a jogatina por cima do ombro do protagonista. Você precisa ficar girando praticamente o tempo todo para ter visão total de um ambiente, e isso cria uma constante sensação de insegurança já que você está sempre cheio de “pontos cegos” e sempre pronto para ser pego de surpresa.

{quote}A visão em terceira pessoa com baixo campo de visão
foi uma escolha muito acertada{/quote}

A mecânica de tiro ficou muito desafiadora e também está pronta para testar os nervos do jogador. É preciso ficar firme por um tempo para conseguir “cravar a mira” no centro da retícula, então o jogador precisa manter o sangue-frio, esperar a mira ficar mais precisa e aí sim esvaziar os pentes de munição. O tenso é que mesmo acertando os tiros na cabeça, é raro uma bala abrir a caixa craniana e resolver a questão em definitivo. Na grande maioria das vezes você vai precisar dar 4, 5 ou até mais tiros até derrubar um zumbi, e muitas vezes essas quedas não querem dizer que o monstro foi abatido. Não é raro você ser surpreendido por um zumbi que você achou que tinha abatido e que aparece de surpresa nas suas costas, de novo.

{quote}É difícil matar UM zumbi e você SEMPRE fica na dúvida
se realmente deu um fim nele{/quote}

Os recursos são parte importante da tensão que esse jogo cria, tanto pela baixa quantidade de recursos que o jogador recebe ao longo do jogo quanto pela dificuldade de gerenciar um inventário bastante apertado. Principalmente no início da campanha, enquanto você não ampliou seus espaços disponíveis (acho que nunca fiquei tão feliz de encontrar pochetes como em Resident Evil 2 Remake) você precisa escolher quais armas, itens de cura e equipamentos das missões vai carregar, e não é raro você precisar fazer espaço nos bolsos descartando itens ou fazendo todo o caminho até um baú porque faltou lugar para um item crucial para avançar no jogo. A falta de recursos pode levar a trechos inteiros em que você precisa avançar com as armas totalmente descarregadas, colocando uma pressão enorme no jogador.

Com o surgimento de criaturas mais poderosas, o jogador se depara com situações em que não é capaz de derrotar os monstros que surgem, e o Mister X (ou Tyrant modelo T-103, se preferir) se tornou o trecho mais duro do jogo, na minha experiência. Mantendo o estilo do game original, o Mister X é um inimigo imbatível e que não deixa nenhuma outra alternativa ao jogador além de fugir, e agora sem mais as limitações técnicas que forçavam carregamentos em cada troca de ambiente, a famigerada arma biológica da Umbrella Corporation consegue perseguir o jogador por múltiplas salas e corredores, sempre acompanhado de seus passos pesados ecoando pelo piso. Mesmo depois de fazer ele perder seu rastro, a qualquer momento vocês podem se encontrar na delegacia novamente, já que ele fica circulando pelo mapa, criando uma nova camada de preocupação para jogador. Sem as limitações do game de 98, agora zumbis também conseguem avançar para ambientes diferentes, então se ouvir pancadas na porta, esteja pronto que em breve terá companhia.

{quote}Mister X foi uma das experiências mais torturantes
que já passei em um game de terror{/quote}

Enquanto você gerencia todos esses problemas ao mesmo tempo, a essência do game segue a mesma do jogo original: os puzzles. O mapa é recheado dos mais variados desafios, muitos envolvendo encontrar peças ou pistas para destrancar armários, abrir passagens ou desbloquear cofres, tudo para fornecer mais recursos básicos ao jogador ou para possibilitar avançar na história. O tom excêntrico do jogo original foi mantido, então espere por chaves em forma de naipes de cartas, caixinhas de joias com fundos falsos, passagens secretas e alavancas escondidas em estátuas, tudo combinado entrega esse estilo bastante marcante dos primeiros games da série Resident Evil. 

{quote}RE2 Remake conseguiu unir uma série de dificuldades e preocupações ao
jogador que, combinados, geram um verdadeiro tormento{/quote}

Eu não tenho dúvidas que foi aqui onde aconteceu o maior acerto da Capcom. A empresa conseguiu combinar uma série de mecânicas que unidas tornam o gameplay uma experiência muito tensa, sempre mantendo o jogador sob pressão e criando um ambiente perfeito para o terror. É quando você está nas últimas balas da pistola e sem kits de cura que qualquer movimento ou barulho em um corredor causa um micro-enfarto. E você sabe que o jogo não vai ter piedade nenhuma e simplesmente pode jogar monstros no seu caminho a qualquer momento.

Claro que um jogo impiedoso 100% do tempo é loucura, então a única “colher de chá” também é uma importante referência aos games clássicos. As salas seguras seguem sendo o local onde o jogador pode parar, salvar a partida e reorganizar os itens no baú. São os únicos lugares em que você tem segurança que não será atacado por zumbis ou que o Mister X vai dar as caras. Em dificuldade padrão ou fácil dá pra salvar quantas vezes quiser, mas os mais corajosos que vão arriscar o modo difícil vão ter que conviver com a nostálgica limitação de saves baseado na quantidade de fita para a máquina de escrever.

Áudio

Parte importante da ambientação do jogo são os efeitos sonoros. Ao longo do gameplay, a Capcom foi bastante parcimoniosa no uso de trilhas, deixando músicas apenas para trechos mais dramáticos como perseguições e principalmente para ampliar a intensidade das cutscenes. Durante a partida, porém, não há praticamente música rolando, pois o áudio é tomado pelo sons do passo do jogador e por barulhos de zumbis e monstros ao fundo.

{quote}Prestar atenção aos sons é importante
​para sobreviver em Raccoon City{/quote}

É indispensável prestar atenção aos sons pois na maioria das vezes você vai primeiro ouvir e depois ver a próxima coisa que irá lhe agredir. O som é muito usado para indicar quando uma criatura está prestes a entrar no ambiente onde você está, seja pelo som de pancadas nas janelas e portas ou som de passos no caso dos monstros inteligentes o bastante para abrir portas. Com o campo de visão tão limitado, ouvir a aproximação de um zumbi pode ser a única forma de escapar de um ataque surpresa pelas costas.

O trabalho de dublagem está excelente, porém infelizmente o game não recebeu uma versão em português brasileiro para as vozes. Ainda bem que o game está todo legendado para o português, então mesmo quem não manja de línguas estrangeiras vai poder acompanhar a história e, principalmente, ler as instruções nos menus e também nos itens que vai encontrando no jogo, algo indispensável para conseguir avançar.

Enredo

A história segue focada na dupla Leon Kennedy e Claire Redfield, e na essência entram em Raccoon City com os mesmos objetivos do jogo de 1998: Claire busca por seu irmão, enquanto Leon deveria começar a trabalhar como policial na cidade, mas chega para descobrir que as coisas saíram completamente do controle. 

Na medida que você vai avançando na solução dos puzzles você encontra uma série dos personagens que estavam presentes no jogo original, mas há variações em alguns desfechos e até mesmo ausências. Gostei muito tanto dos eventos que foram modificadas comparado ao original, muitas vezes criando cenas mais dramáticas e interessantes, mas também há partes que foram mantidas muito parecido com o game de 98, e nesses momentos vemos o quanto a indústria evolui em termos técnicos, com as mesmas ações recriadas com muito mais qualidade gráfica, textos muito melhor trabalhados e interpretações muito mais convincentes. Para quem quer uma refrescada na memória, esse trecho é um bom exemplo de como alguns diálogos eram até um tanto estranhos, e atuações nem sempre eram brilhantes no jogo original. No remake essa interação mudou bastante e o resultado ficou muito melhor, na minha opinião.

Atualizações em alguns dos desfechos ficaram ótimas

Além das cutscenes, a história traz uma quantidade rica de detalhes nos documentos espalhados pelos cenários, especialmente na delegacia. Além de dicas para obter itens, destravar cadeados ou soluções para os puzzles, em várias das anotações largadas pelas mesas ou e-mails abertos em computadores, dá para pegar detalhes da rotina das pessoas em Raccoon City e também encontrar evidências dos eventos que levaram a tragédia na cidade.

{quote}Apesar de um novo enredo, a segunda campanha
repete bastante elementos da primeira{/quote}

O jogo é dividido em duas campanhas, sendo que cada uma pode ser jogada com um personagem e dessa forma é possível ver o que aconteceu tanto com Claire quanto com Leon enquanto eles tentam sobreviver ao inferno em Raccoon City. Os enredos são completamente diferentes, porém há muita repetição nos cenários das duas jornadas. Apesar de abrir uma ou outra sala nova na segunda campanha, em geral os puzzles são bastante semelhantes, e há até lutas inteiras com chefões que são simplesmente repetidas. É uma pena que a Capcom não criou duas campanhas com maiores variações entre as jornadas de Claire e Leon, reaproveitando bastante elementos nas duas histórias e fazendo com que a segunda campanha seja bem menos atrativa e surpreendente que a primeira.

Falando em repetição, esse game mantém a vocação de replay que o jogo original possuía. Além de poder inverter a ordem que você joga cada campanha, mudando qual desafio Claire e Leon enfrentam, jogar novamente possibilita melhorar a classificação do jogador, tentando usar menos recursos e reduzindo o tempo necessário para fechar a campanha, e através disso buscar liberar novas campanhas e modos no game.

Resident Evil 2 Remake achou um excelente balanço entre manter a essência do jogo original, porém se modernizar onde é necessário. A troca para uma mecânica de tiro em terceira pessoa atualizou o gameplay, que ao mesmo tempo manteve elementos centrais da experiência original como a dificuldade em abater zumbis, a falta de espaço no inventário e a grande quantidade de puzzles a serem resolvidos. 

{quote}Capcom acertou no balanço entre renovação
e manter a essência do game{/quote}

O enredo também sofreu alterações, mas novamente temos muitos acertos com um roteiro melhor elaborado e mais coerente, atuações mais convincentes dos personagens e desfechos bastante satisfatórios das situações que Claire e Leon se metem em suas desventuras por Raccoon City. É tão gratificante ver as cenas que foram alteradas quanto os trechos que ficaram mais próximos ao jogo original, trazendo aquela sensação nostálgica aliada com uma nova roupagem que as tecnologias mais recentes viabilizam.

E é nesse balanço que a Capcom consegue agradar tanto ao público tradicional quanto aos novos jogadores. A empresa manteve trechos e elementos que despertam a nostalgia dos gamers que encararam o jogo no primeiro Playstation, mas ao mesmo tempo não deixou de modificar e atualizar elementos que precisavam ser renovados, sem nunca mexer em elementos centrais da identidade do jogo. Com isso, esse é um game que pode ser recomendado sem nenhuma dúvida tanto aos fãs do jogo original quanto a uma nova audiência que busca um jogos de tensão e terror, e que pode ser recomendado até mesmo para quem é completamente ignorante ao jogo de 1998 ou mesmo a toda a franquia Resident Evil, sendo um excelente jogo de sobrevivência e terror, com potencial para deixar o jogador no limite e com muitos sustos ao longo do caminho.

Esse game irá agradar tanto aos nostálgicos quanto aos novatos na franquia, sendo fortemente indicado para fãs do gênero de sobrevivência e terror

Prós

Excelentes gráficos

Gameplay atualizado põe o jogador sob muita tensão

Bom equilíbrio entre atualizações e se manter fiel ao original

Puzzles variados

Alto potencial de replay para cumprir desafios

Contras

Bastante repetição de puzzles e cenários na segunda campanha

Conclusão

{notas}

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