

ANÁLISE: Nvidia Shield
ANÁLISE: Nvidia ShieldO Nvidia Shield é um aparelho peculiar: ele parece um controle de Xbox 360 que ganhou uma tela de alta definição, e ficou muito mais pesado – com o dobro do peso, para ser mais exato. Ele roda Android como sistema operacional, o que significa que tanto é possível navegar na internet e usar qualquer aplicativo da Google Play Store, quanto aproveitar a extensa biblioteca de jogos da plataforma. Mas quem comprar um Shield provavelmente estÁ mais interessado em outra função: o GameStream, que permite transmitir jogos de um PC para o portÁtil através de uma rede wi-fi, e jogÁ-los em qualquer lugar da casa.
Só que, para isso, é preciso ter um PC poderoso e atualizado: os requisitos mínimos são uma GPU Nvidia GTX 650 ou melhor, junto de, no mínimo, processador Intel Core i3-2100 3.1GHz ou AMD Athlon II X4 630 2.8GHz. Além disso, os US$ 299 cobrados pelo aparelho são bastante salgados, e, longe de um PC, podem acabar faltando jogos realmente interessantes em sua biblioteca. O lado bom é que, por ser um dispositivo equipado com Tegra 4, o Shield roda todos os games do sistema Android na melhor qualidade possível, alguns são, inclusive, otimizados especialmente para ele. Mas isso é suficiente para justificar a compra do aparelho?
Design e tela
O design do Shield chama bastante a atenção. Não só pelo seu formato de controle de Xbox 360, mas também pela beleza das linhas. Claro que esse é um fator subjetivo, mas é possível dizer que o visual do Shield transmite a impressão de se estar diante de um dispositivo "premium". E uma olhada mais próxima confirma exatamente essa sensação. Percebe-se que o aparelho é bem construído, com acabamento de boa qualidade, e que se adapta bem às mãos.
Mas deve-se fazer a ressalva de que o Shield é bem mais pesado do que os portÁteis com os quais estamos acostumados. O portÁtil da Nvidia pesa 539g, ou seja, mais que o dobro dos 279g do PS Vita com 3G ou que os 239g do Nintendo 3DS. Pelo menos o formato de controle de Xbox 360 do Shield traz se encaixa quase que perfeitamente nas mãos, a ponto de eu chegar a jogar 3 horas consecutivas sem apresentar cansaço nos braços. Mas hÁ um contraponto, jÁ que alguns colegas aqui da redação reclamaram do peso do portÁtil.
Sobre a tela: ela é de 5 polegadas IPS e possui resolução HD (1280 x 720), o que lhe dÁ uma densidade de 294 ppi, melhores que os 220 ppi do PS Vita e os 118 ppi da tela superior do 3DS. Além disso, a tela do Shield tem suporte a múltiplos toques, aos quais o aparelho responde de imediato. O display consegue exibir imagens com ótima qualidade e boa fidelidade de cores, que talvez fiquem um pouco mais saturadas do que deviam. Tirando isso, a tela é tudo que se precisa para exibir tanto jogos de Android quanto os transmitidos de um PC, via GameStream.
Tecnologias
Por usar o sistema operacional Android, o Shield tem um grande número de utilidades. Mas vamos começar pelo seu diferencial: o GameStream. O que ele faz é, basicamente, transmitir os jogos de um PC com GPU Nvidia para o portÁtil. Mas, como jÁ foi citado na introdução, os requisitos para usar a tecnologia não são baixos, e pedem que o jogador tenha, pelo menos, uma GeForce GTX 650. Passando disso, é preciso ficar de olho no roteador também. Não conseguimos encontrar o PC usando o modem/roteador Power Box GVT, o que foi resolvido ao usarmos um roteador diferente.
Tirando essa pequena dificuldade, o processo é bem fÁcil e rÁpido, e funciona bem. Com o GeForce Experience e o Steam abertos, basta entrar no menu do Shield, e ir para a seção "PC Games", que é onde são mostrados todos os computadores que estejam na mesma rede e possam transmitir jogos. Feito isso, basta escolher um jogo dentre os otimizados para o GameStream (confira aqui a lista), ou abrir o Big Picture e tentar algum outro game.
Depois de iniciar o jogo, tudo funciona muito bem. A resposta tem uma latência incrivelmente baixa, que é imperceptível. O alcance da transmissão é relativamente grande, e eu consegui caminhar pela redação inteira sem encontrar problemas. O único momento em que alguns artefatos de renderização (como aqueles que se vê no Youtube) apareceram foi quando desci as escadas e saí daqui. Mesmo nesses momentos, ainda foi possível controlar o jogo sem nenhum atraso. A única diferença é a qualidade piorada da imagem.
Ambos os jogos que eu testei – Grid 2 e BioShock Infinite – jÁ estão configurados para o Shield e, por isso, não é preciso fazer nenhum ajuste. Eles jÁ tratam o portÁtil como um controle de Xbox 360. Outra coisa interessante de se fazer com o GameStream é conectar o Shield a uma TV – usando o que a Nvidia chama de "Modo Console" – e transmitir um jogo do seu PC para um televisão que esteja em outro ambiente. Isso é uma boa alternativa para quem gosta de jogar na TV da sala, mas não quer ficar trocando o computador de ambiente o tempo todo. Mas é recomendado ter um controle Bluetooth para usar nesse caso, se o sofÁ ficar muito longe da TV.
Também é possível jogar os games de Android no Modo Console, apesar de que a diferença de qualidade é perceptível, no caso. Jogos que possuem grÁficos interessantes na tela de 5 polegadas do Shield ficam bem feios até mesmo numa TV de 24 polegadas. E falando em games Android, eles são tudo que você pode jogar no portÁtil da Nvidia enquanto estÁ fora de casa.
EstÁ certo que a biblioteca do sistema Android estÁ crescendo bastante, mas ainda estÁ longe da quantidade – e da qualidade – dos jogos de portÁteis como o 3DS e o PS Vita. Ainda assim, temos alguns games que salvam, sendo o meu favorito GTA: San Andreas. Também hÁ os 2 outros GTAs da era PlayStation 2 (Vice City e GTA III), assim como um ou outro game de cada gênero. Qualquer jogo com suporte a controle funciona perfeitamente no Shield, e alguns são, inclusive otimizados para o portÁtil. Exemplos incluem Dead Trigger 2, Real Boxing e GTA: Vice City. E, mesmo que o jogo não possua suporte a controles, é possível customizar os botões para que apertar o "X", por exemplo, seja equivalente a tocar com o dedo em uma parte da tela. O que é muito útil em um jogo com o FIFA 14, por exemplo.
O Shield também pode ser usado para diversas outras funções, como tocar vídeos – ou até filmes – jÁ que, graças ao seu sistema Android, ele pode baixar aplicativos de serviços como o Netflix, ou usar algum player próprio. E, enquanto sua tela fornece uma ótima qualidade de imagem, e seus auto falantes produzem um som potente e claro, ele talvez seja mais pesado do que a maioria dos tablets, que são mais indicados para essa função.
Mas falando no som do Shield, se comparado aos auto falantes de Vita e 3DS, suas saídas de som se saem muito melhor. Mas, se tratando de um portÁtil, fica a dúvida se não era melhor economizar um pouco nos auto falantes, e baratear o aparelho, jÁ que, quando se estÁ num ônibus ou metrô, por exemplo, costuma-se usar um fone de ouvido.
Desempenho e autonomia
Na parte do desempenho, não hÁ o que reclamar do Shield. Ele rodou todos aplicativos ou jogos que testamos na qualidade mais alta disponível, e sem apresentar qualquer travamento. Atividades cotidianas, como navegar na internet ou assistir a vídeos, também são feitas sem maiores problemas.
Isso acontece porque, debaixo de sua carcaça, o Shield carrega o chip Nvidia Tegra 4, que, por sua vez, inclui uma CPU quad-core ARM Cortex-A15, que roda em frequência mÁxima de 1.9 GHz. Juntando isso aos 2 GB de memória RAM do dispositivo, é possível entender porque o aparelho se sai tão bem no desempenho do dia-a-dia, e também nos benchmarks, que podem ser conferidos abaixo.
Nos testes, vimos que o Shield se destacou em todos, ficando atrÁs de um outro aparelho – o Sony Xperia Z1 – em apenas um teste, o Ice Storm Unlimited, do 3D Mark. Ainda assim, ele se saiu bem melhor que os outros dispositivos no outro teste sintético, o Antutu.
Como é possível reparar, estamos inaugurando um novo teste, que é o Basemark X. Sua diferença é que ele é baseado na Unity Engine, motor que é utilizado em vÁrios jogos mobile atuais, como Dead Trigger 2 e Shadowrun Returns, e até em jogos de PC, como Gone Home e Surgeon Simulator 2013. Por ser um teste novo, nossa base de dados ainda é limitada, mas jÁ é possível perceber que o Shield bateu o Samsung Galaxy S4 (I9505) por larga margem, de mais de 60% , nos testes em qualidade alta.
A autonomia do aparelho não deixa nem um pouco a desejar também. Sua "monstruosa" bateria de 7350 mAh pode levar cerca de 2 horas para ser carregada, mesmo usando o carregador original. Mas, quando o Shield estÁ com carga completa, é possível usÁ-lo por até 3 dias (com uma média de 3 horas e meia de uso por dia) sem nem pensar em recarregÁ-lo. Claro que isso traz uma desvantagem, que é sentida em seu peso de 579g.
Conclusão
Não hÁ dúvidas de que, em tudo que se propõe a fazer, o Nvidia Shield se sai muito bem. O chip Tegra 4 aguenta perfeitamente qualquer jogo jÁ lançado para Android, e a função GameStream, apesar de sua limitação de estar na mesma casa do PC, funciona perfeitamente, mesmo estando relativamente distante do computador.
Mas a verdadeira questão é se hÁ público para o dispositivo. Ele não tem condições de competir com PS Vita e 3DS pelo mercado portÁtil, jÁ que sua biblioteca de jogos não se compara ao que os aparelhos de Sony e Nintendo oferecem. E o preço, de US$ 299, também não ajuda nessa situação.
Porém, hÁ um nicho, de jogadores de PC, que gostariam de jogar seus games através do GameStream, estão dispostos a pagar o alto preço do aparelho, e aceitam os games do Android como um "extra", que adicionam valor ao dispositivo. É para essas pessoas que o Shield pode ser o aparelho perfeito. Isto, ou torcer pela expansão do sistema da Google na Área dos jogos, algo que, se acontecer, irÁ fazer toda a diferença para este gadget.