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Beyond: Two Souls” é o novo jogo da Quantic Dream no mundo das narrativas interativas. Dirigida por David Cage, essa é a segunda produção exclusiva da companhia francesa no Playstation 3 (a primeira foi o clÁssico “Heavy Rain”, em 2010) e, dessa vez, o produtor apostou numa aventura não-linear e convocou os talentos de Ellen Page e Willem Dafoe para desenvolver uma trama baseada na vida e na morte e até a que ponto é vÁlido fazer esses dois mundos interagirem. Considerando algumas inconsistências no enredo e confusões na jogabilidade, o game agrada bastante, é consistente do começo ao fim, impressiona com grÁficos incríveis e diverte com eventos sobrenaturais que se aproveitam da vulnerabilidade da atenção mÁxima do jogador.  

História e Jogabilidade

A história de “Beyond: Two Souls” se concentra totalmente em Jodie Holmes, a protagonista, que é acompanhada por uma entidade espiritual chamada Aiden desde que nasceu. A narrativa é contada de uma forma não-linear, mostrando, aos poucos, diferentes perspectivas de momentos variados da vida conturbada da personagem. Ora jogamos como uma garotinha e descobrimos seus principais medos e angústias, todas provocadas por estar conectada a um ser que sequer entende o que é. Ora passamos a ter o controle de uma adolescente que, como qualquer pessoa nesta idade, se encontra numa montanha russa de sentimentos e sensações que muitas vezes não consegue controlar ou mesmo entender. JÁ adulta, Jodie encara desafios cabeludos que só pessoas com o tipo de “dom” que ela tem poderiam aguentar e contornar. Se é que essas pessoas existem, é claro.

O modelo não-linear da história do game funciona bem, mas também traz inconsistências. Prós: não é preciso esperar muito para conhecer mais a fundo alguns dos momentos mais marcantes na vida de Jodie, jÁ que existe um revezamento bem balanceado nas idades programadas para a personagem. E as revelações mais surpreendentes são feitas numa cadência sabiamente equilibrada, sem pressa e sem enrolação algumas, dando tempo para o jogador absorver os acontecimentos aos poucos e com devida apreciação. Isso geralmente resulta em comoção, impacto, espanto, apreensão e imprevisibilidade, características constantemente exploradas do enredo. Contras: houve pelo menos duas passagens do jogo que pareceram não se encaixar exatamente na trama, servindo mais como recurso de expansão do contexto de conexão entre Jodie e Aiden do que realmente agregar mais detalhes ao caminho central da narrativa. Numa ocasião mais específica, a seriedade proposta pela sobrenaturalidade da trama foi minada por uma passagem demasiadamente fantasiosa, o que pareceu exagero demasiado.

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O legal é que, durante a aventura, vÁrios outros personagens igualmente carismÁticos à Jodie (espetacularmente interpretada por Ellen Page) aparecem e ajudam a contextualizar a história. Todos eles são, de alguma forma, diretamente afetados pelos benefícios e/ou malefícios que uma pessoa capaz de se comunicar e agir conjuntamente com algo do além pode criar. Com isso, vai da vontade do jogador escolher o que quer fazer e decidir o destino da narrativa. Existem alguns trechos cruciais que permitem que o jogador escolha a ação, a causa e, consequentemente, o rumo que a próxima cena deve seguir. Além disso, aqui não existe game over: se um dos personagens morrer, é possível continuar a jogar normalmente com os os outros remanescentes. Só que como tudo no jogo é extremamente focado em Jodie, são poucas as oportunidades em que a ela pode ser morta, a menos que esteja se encaminhando para o terço final da trama. JÁ os outros personagens vivenciam situações mais constantes de risco de morte, sendo que Jodie é o elemento-chave que pode garantir ou não a sobrevivência de cada um deles.

Para chegar a esse ponto, é preciso apertar os botões que aparecem e de acordo com o momento das ações que acontecem na tela. É, basicamente, uma reunião de cerca de dez horas de puros QTEs (Quick-Time Events) interativos e contextualizados numa forma de jogabilidade menos livre e intuitiva, mas ainda assim divertida e recompensadora. Com Jodie no comando em uma situação comum, o analógico esquerdo serve para movimentÁ-la pelos cenÁrios. O analógico direito controla a câmera, que nem sempre serve bem ao propósito de enxergar mais amplamente uma Área de interesse. JÁ numa situação com cenas que ponham em risco a vida dos personagens, o analógico direito serve para golpear, desviar de armadilhas, contra-atacar, encontrar soluções rÁpidas, trespassar barreiras e abrir caminhos urgentes de escape. É aqui onde a jogabilidade mostra a única sua falha.

Algumas vezes não fica claro para qual lado a ação deve ser direcionada para ter sucesso na investida. Tudo depende do ângulo que a câmera mostra as cenas, da posição dos personagens nela envolvidos e da origem da direção do movimento dos perigos nela contidos. Ora virÁ de cima, de baixo, da esquerda e da direita. É preciso ser consideravelmente Ágil no raciocínio para analisar essas variantes, não falhar nas cenas mais agitadas e continuar jogando tranquilamente. Não chega a ser frustrante ou irritante, mas poderia ter sido melhor adaptado, levando em conta que é também preciso algum tempo de treino até se tornar perito nos comandos. Felizmente, não acontece no controle de Aiden: o L1 concentra a atenção da entidade num alvo qualquer e, dependendo do contexto, você pode enforcÁ-lo, incorporar nele ou interagir com algum objeto mais relevante. Além de funcionar muito bem, esses recursos trazem um ar natural de inovação à narrativa e ainda permitem experimentar uma partida inteira com um segundo jogador local. Enquanto um assume o comando de Jodie, o outro encarna o papel de Aiden, sendo este último possível de controlar com o DualShock 3 ou com smartphones com sistemas iOS ou Android.     

GrÁficos e Áudio

Os grÁficos de “Beyond: Two Souls” são extremamente bem feitos, com muitos detalhes de objetos em cenÁrios bem realistas, que somam muitos pontos na imersão proporcionada pela aventura. Cada lugar visitado traz uma sensação de descoberta única, fazendo o jogador se envolver mais com a vulnerabilidade e desolação sentida por Jodie e com o lado sobrenatural explorado em boa parte das cenas do game. É uma evolução bem acentuada se comparada com a “Heavy Rain” e chega a ser incrível ver na tela o que um console com quase sete anos de mercado é capaz de fazer quando sua arquitetura e potência, ambas jÁ no limite, são usadas com maestria. As texturas são extremamente bem empregadas e as expressões faciais convencem a todo momento com o uso de recursos avançados de captura de movimento. Não tem como não se impressionar.

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A trilha sonora é simplesmente espetacular e combina totalmente com as dificuldades, as superações, os desafios, a insegurança, a excentricidade e a paranormalidade que acompanham a evolução da protagonista. Da mesma forma como acontecia no jogo anterior da Quantic Dream, existem momentos que combinam diversos tipos de sentimentos numa só cena, que vão da agonia ao desespero, começam no fracasso e acabam no êxito inesperado ou do esforço insignificante que resulta em tristeza mórbida. São essas variações que deixam a história com alguns trechos mais impactantes e outros igualmente emocionantes, sobretudo quando vamos nos aproximando da conclusão dos acontecimentos. As dublagens em português brasileiro, que causaram problemas em milhares de jogadores que tiveram acesso às primeiras cópias do jogo, também estão excelentes.

Conclusão

Mesmo com falhas de construção de enredo e de algumas confusões na jogabilidade, “Beyond: Two Souls” chegou para reforçar que não é sempre preciso ter uma arma nas mãos de um personagem, rechear cenas com tiroteios frenéticos, mostrar uma barra de energia que se recupera aos poucos e um HUB completo com trocentos comandos simultâneos na tela para proporcionar uma experiência singular e muito entretenedora. A trama, além de explorar a imprevisibilidade do sobrenatural e de instigar a curiosidade cada vez mais com o passar das horas, expande as possibilidades de interação ao abrir um leque de escolhas que influenciam diretamente no seu próprio destino. As variações são bem satisfatórias e é possível ver um total de até 24 finais diferentes. Fora isso, Jodie, Aiden e outros personagens tão marcantes quanto somam ao visual embasbacante e à trilha sonora sensivelmente emocionante para entregar um das experiências mais sinceras no PS3. Se você gostou de “Heavy Rain” (2010), aventure-se aqui sem medo. Caso contrÁrio, não gaste seu dinheiro.  

Prós

Narrativa não-linear permite vÁrias escolhas e traz 24 finais

Jodie, Aiden e outros personagens são muito carismÁticos

Aspectos sobrenaturais, suspense e reviravoltas do enredo

GrÁficos espetaculares

Interpretação primorosa de Ellen Page e Willem Dafoe

Trilha sonora emocionante e excelente dublagem em português brasileiro

Contras

Alguns trechos do enredo são inconsistentes e parecem deslocados da temÁtica

Confusões na jogabilidade durante o controle de Jodie nos combates

Consideravelmente fÁcil e desafio baixo

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