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ANÁLISE: Mass Effect: Andromeda

Depois de fechar a trilogia que contou as aventuras Shepard, a franquia Mass Effect retorna após 5 anos com uma missão bastante complicada: trazer uma nova história, que se mantém no mesmo universo das aventuras do primeiro Spectre da espécie humana, mas com novos personagens, nova ambientação e que, portanto, não conta mais com os personagens carismáticos que prenderam os gamers até o final da primeira trilogia.

Mass Effect Andromeda foi desenvolvido pela Bioware e distribuído pela EA. Está disponível no PC, Xbox One e Playstation 4. Avaliamos a versão de PC com gameplays alternados entre diversos perfis de hardware, alternando o uso de controles com a tradicional interação teclado+mouse. Foram no total 30 horas jogadas (essa review é escrita antes de finalizar a história principal).

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Enredo


Amplo, mas poderia ser mais denso

Mass Effect Andromeda começa em 2185, entre os eventos de Mass Effect 2 e 3. Quer dizer, pouca coisa se passa realmente em 2185. Com o sonho de explorar a galáxia vizinha, Andromeda, diversas espaço-naves são lançadas da Via Láctea com populações inteiras para povoar planetas desconhecidos, em uma operação batizada de “Iniciativa Andromeda”. A viagem levou 600 anos, com os tripulanes mantidos em estado suspenso (esse enredo, por sinal, é um clássico da ficção científica).

A história se desenvolve a partir dos erros de cáculo que previsões com 600 anos de antecedência causam. Algo atacou as Arcas (nome dado às naves com colonizadores) no meio do caminho e a Nexus, estação espacial que atuaria como ponto de partida para a colonização, estava longe de estar finalizada quando enfim a Hyperion, a Arca da espécie humana, chegou lá. Ao jogador cabe a dura missão de por o plano da Iniciativa Andromeda de volta aos trilhos, e isso envolve lidar com muitas diferenças, brigas de ego, anomalias espaciais, misteriosas estruturas alienígenas antigas e chutar algumas bundas ao longo do caminho.

Mass Effect é um game amplo, com mútiplas narrativas se cruzando

Nesse aspecto a Bioware continua se sobressaindo. A quantidade de narrativas nesse universo é gigantesca, com cada personagem e conflito carregado de muita história. Conflitos antigos entre espécies da Via Láctea, necessidades atuais da colonização e ambições pessoais se misturam nas missões, e muitas vezes cabe ao jogador decidir para qual lado a balança vai pender. A quantidade de missões paralelas é enorme, e se você quiser ficar imerso nessa narrativa basta parar para conversar com todo personagem ou objeto marcado como missão secundária.

Há muita coisa para ser feita nesa Galáxia

As histórias se cruzam de forma bastante orgânica, com missões secundárias surgindo em decorrência das missões prioritárias, com diálogos ocasionais ao cruzar com personagens ou até mesmo de forma expontânea, especialmente quando membros de sua tripulação vêm pedir favores. Dá pra sumir com dezenas de horas de sua vida se você atender todo mundo que aparece com uma exclamação piscando em cima da cabeça.

Meu maior problema com o enredo é sua falta de inspiração. Muitas missões não parecem trazer um impacto significativo, e até as decisões morais que surgem em alguns momentos estão longe de ser algo marcante. A história, apesar de se passar 600 anos e a uma galáxia de distância das aventuras de Shepard, parece um CTRL+C e CTRL+V. Uma tecnologia desenvolvida por uma antiga e misteriosa civilização é a base para a sobrevivência na galáxia, mas você precisa encarar um vilão perverso capaz de controlar mentes, no caminho. Esse é o plot de Mass Effect Andromeda e também do primeiro Mass Effect.

O enredo é um tanto raso e até juvenil

O jogo também é bem juvenil: somos invasores de outra galáxia, estamos aqui para libertar o povo de um déspota cruel e cheio de caprichos. Eu até pesquisei novamente para me certificar que a Bioware é canadense mesmo, porque esse enredo soou bem americano. E Mass Effect Andromeda é possivelmente a única história que conheço que um invasor externo é recebido de forma entusiástica pelos locais, mesmo quando ele começa a fazer acampamentos. No final, o jogo vira um manjado e até bobinho “nós mocinhos versus o ditador malvado”. 


Toca até uma música pesada pra não deixar dúvida que esse é o malvadão

Gráficos


Belíssimos mundos para explorar e pessoas sem expressões faciais para conhecer

Mass Effect Andromeda tem altos e baixos nos gráficos. Com certeza o grande destaque é a ambientação. Os mundos trazem visuais completamente diferentes dos demais com um ecossistema, geografia e atmosfera únicos. Em um instante você está correndo pelos desertos, lutando para não morrer em altas temperaturas, e algumas horas depois você está em outro deserto, mas agora de gelo e lutando para não congelar.

As construções também mostram muito capricho, com estruturas complexas e cheias de detalhes e objetos que as dão vida. Essa alta densidade de objetos, vegetações, efeitos climáticos e animais silvestres dão vida e veracidade a essa aventura desbravadora.

Os planetas são belíssimos e variados

Mas é aí que você precisa falar com os locais, e um pouco da magia se perde. Em mundos tão bem construídos, é frustrante ver o quanto as animações dos personagens ficam bem abaixo. A modelagem em si não é ruim, e está em um nível próximo ao excelente patamar do restante do jogo, porém a expressividade é totalmente frustrante. Em um game que tem o enredo e a interação com os demais personagens como um elemento central, muitas das cenas e dos momentos perdem toda a magia porque você se sente conversando com bonecos, com aquele olhar de peixe morto e com movimentos faciais que não condizem com a emoção que desejam passar. Alguns personagens, inclusive, ficam o jogo todo com a mesma expressão, fazendo o Vale da Estranheza dominar muitas conversas.


Compare o diálogo e a expressão facial de Suvi (a vestida em vermelho)

Com tantas histórias acontecendo, é triste ver tudo ir abaixo por falta de expressividade dos personagens

Não que o jogo seja sempre ruim nesse aspecto, há momentos melhor trabalhados. Porém na média as expressões estão ruins, e L.A. Noire (game de 2011 e da geração passada de consoles) faz Mass Effect Adromeda passar vergonha. Em alguns momentos, ME Andromeda fica em par com… os Thunderbirds (obrigado, @alive75, por achar a comparação perfeita). Essa falta de expressividade agrava a banalidade de algumas das cenas. Mass Effect Andromeda sofre de vários momentos desinteressantes e conversas quase apáticas, e a situação fica ainda mais tola quando consideramos que, segundo o enredo, estamos no limite da luta pela sobrevivência em uma galáxia hostil.

Gameplay


Tudo fica melhor com um jetpack

Em um gameplay de Just Cause, João GAN veio com a máxima “ganchinhos e dragões sempre deixam os jogos mais legais”. Ele esqueceu de mencionar jetpacks. Mass Effect Andromeda mantém a mecânica de shooter RPG, porém a inclusão de deslocamentos rápidos com um jetpack mudou muito da dinâmica das lutas. Você pode usar pequenos impulsos para se lançar para cima ou para frente, e o gameplay pesado e lento dos games anteriores deu espaço a uma mobilidade muito mais interessante.

Ao invés do repetitivo “pega cobertura, atira, pega cobertura”, em Andromeda o avanço e recuo acelerado possibilita ações muito mais variadas. Além do tiroteio tradicional, dá para jogar em fluxos e de ataques corpo-a-corpo seguido de recuos. Dá para ficar no ar atirando para ganhar ângulo e atingir mesmo inimigos protegidos, é possível dar a volta em formações adversárias e atacar pelas laterais ou até mesmo pelas costas. As possibilidades são muitas, e ficam ainda mais ampliadas pelo sistema de evolução do personagem.

A mecânica de combate é a melhor da série

Existem três linhas principais: Tecnológica, Biótica e Combate. Não há imposições sobre como você deve evoluir seu personagem. Logo, é fácil desenvolver uma forma de combate que se adapte a seu estilo de jogar, seja para o gamer mais tradicionalista que quer usar armas de fogo e bombas até o adepto de esquisitices espaciais como criar campos antigravitacionais e atravessar o mapa com um impulso de… sejá lá qual for a força/ki/poder-zumbi da vez.

A IA nos combates não é das melhores

Mas segue um problema crônico de Mass Effect, e de muitos dos games com essa característica: os NPCs em combate são muito bobos. É fácil ver no meio da briga Liam em pé no meio do campo amortecendo os tiros dos inimigos com o queixo, ou a Cora achando excelente a ideia de ficar em cima de uma caixa, ao invés de atrás dela. Os inimigos também fazem das suas, e é normal ver alguém de seu esquadrão lado-a-lado com um adversário, mas não lutando entre si, resultado de um foco exagerado do ataque do inimigos ao jogador. Eventualmente desistir de me importar com eles, e passei a me preocupar apenas com meu posicionamento e ações, ajuntando eles do chão eventualmente. Meu critério de formação do time também mudou: passei a escolher os que faziam os comentários mais engraçados, já que para o combate não senti muita diferença independente de quem eu levasse.

Outro ponto importante no gameplay são os menus. Eles são horríveis. Excessivamente escuros, com informações pouco úteis e sobrecarga de informações em algumas telas, o jogador é forçado a passar por uma curva de aprendizado para entender onde estão as coisas, e elementos básicos como comparar armas dão mais trabalho do que deveriam. É ÓBVIO que eu quero instantanemante um comparativo da arma que estou olhando no inventário com a arma que uso no momento. Pela falta de noção de design e organização, as vezes me sinto lidando com aqueles softwares de gerenciamento de macros em periféricos.

Os menus são feios e pouco práticos

Mako, “o carrinho de Mass Effect”,  fez seu retorno e agora se chama de Nomad. Ele ficou mais interessante com modos de alta velocidade e mais tração, e em vários momentos ele traz aquela excelente sensação de exploração quando você se desloca por um planeta pela primeira vez. O problema é que quando você está cruzando pela enésima vez o mesmo ambiente porque tem que buscar algo do outro lado do mundo ele perde um tanto de seu brilho e se torna bem monótono. E ficar brigando para subir montanhas pode se tornar bem chato, especialmente quando você está passando trabalho para achar o caminho certo que deve subir.

Sobre bugs, o jogo tem os seus, mas não acho comprometedor. A maior parte do tempo eles são mais cômicos do que um problema. A Peebee sempre erra o lado que está a mesa e se escora no ar depois de uma conversa, e tinha uma fase que eu sempre atravessava o chão quando morria. Como esse tipo de falha não é algo que aconteceu com uma frequência excessiva, nos momentos que aconteceu me divertiu mais do que frustrou.

Multiplayer


Uma ótima surpresa de Andromeda

Como se trata de uma franquia que sempre apostou pesado em sua campanha e em seu enredo, não há grande expectativa por um multiplayer muito impactante. Porém por conta do gameplay bem mais interessante comparado aos games anteriores, é uma grata surpresa abrir as partidas multijogador e descobrir que elas são… divertidas!

O multiplayer em Andromeda está divertdo e vale a pena ser jogado

Entre os modos e cenários, os combates contra ondas de inimigos de forma cooperativa são excelentes e divertem bastante, possibilitando ao jogador evoluir seu personagem, distribuir habilidades, obter equipamentos melhores. Dá gosto sobreviver as hordas de adversários e ir melhorando seu personagem, e pode garantir uma boa quantidade de horas de diversão adicional.

Mass Effect Andromeda é uma oportunidade perdida. Foi um excelente acerto deixar a saga de Shepard e a Via Láctea para trás e abrir a possibilidade de explorar mundos totalmente novos, com novos personagens e novas aventuras, mas a forma como foi realizada foi um erro. Por um lado, a Bioware fez um excelente trabalho criando esses planetas com diferentes ambientes e entregando ao jogador a sensação de ser um desbravador, a vanguarda na exploração de “Terras” desconhecidas. Mas falha em entregar aquilo que mais importa: histórias marcantes.

Mass Effect Andromeda é uma oportunidade perdida

A falta de inspiração na narrativa deixou toda a aventura com um tom levemente entediado. Lidar com a ameaça dos Reapers na primeira triologia dava um tom de urgência a serie Mass Effect, e agora que o jogador foi trazido para uma nova galáxia, com tudo dando errado e com muitos dos personagens prestes a enfrentar a morte por fome ou pelos ataques dos Ketts, me irrita o fato de que NINGÚEM GRITA. NINGUÉM SURTA, NINGUÉM PARECE SE IMPORTAR. Você chega em uma Arca que está vagando centenas de anos, sofrendo ataques e com o casco avariado, e a reação dos tripulantes é “que bom que você chegou estava ruim aqui”.

Nem ficar dando em cima de E.T.s tem graça

Isso poe tudo a perder. O gameplay melhorou, mas nunca foi o elemento central da série. O apego aos personagens e às histórias contadas são o pilar de Mass Effect, são a motivação que levam o jogador a se importar com as pessoas que ajuda e com as realidades que muda enquanto joga. A falta de profundidade e expressividade impedem que essa “magia” aconteça. Até dar em cima de todo mundo e ver as situações desconfortáveis que isso causa não tem lá muita graça, pois tudo é muito mecânico e esquisito. Com tantos games mostrando como transmitir emoções são uma das partes mais importantes de contar uma história, ME Andromeda olha de volta para o gamer com essa cara aqui:

Mass Effect Andromeda é como um belo prato de comida, mas que esqueceram que precisava ter algum gosto.

Prós

Uma ampla e bela galáxia para se explorar

Melhor mecânica de combate da série

Alta quantidade de missões para jogar

Contras

Falta de profundidade e inspiração no enredo

Expressões faciais péssimas dos protagonistas

Menus confusos

Conclusão

{notas}

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