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Games

Ser gamer é incrível... a menos que você seja mulher, aí é um porre

Quando eu era mais nova, vivia na casa de alguns amigos alugando o Super Nintendo deles. O que eu gostava mesmo era da reunião de seis ou sete “diabinhos” num quarto, onde algumas crianças ficavam brigando para jogar primeiro enquanto outra parte delas decidia qual cartucho seria o escolhido do dia. Lembro que os icônicos jogos do “Donkey Kong” e também do “Super Mario World” ficavam guardados dentro de uma caixa de sapato, mídias físicas grandes, robustas e embaralhadas. A sensação de mexer naquelas peças que pareciam pesadas e maciças mas que na verdade eram levíssimas é algo fácil de lembrar até hoje. Nem o som das fitas de plástico batendo umas nas outras quando procurávamos um jogo na desengonçada caixa de papelão foi esquecido. E é claro que muitas garotas como eu se lembram de seus primeiros contatos com videogames, seja jogando algo como “Berzek” no Atari 2600 ou um “Crash Bandicoot” no PlayStation – aquele Play 1

Mas a coluna não segue a linha de nostalgia das jogatinas na casa de amigos, enquanto as mães dos mesmos serviam salgadinhos para alimentar a fome das crianças viciadinhas em jogos dizendo “limpem os dedos engordurados antes de jogar! Não derrubem refri no meu tapete”. A questão é que jogos são jogos, com o propósito de divertir, trabalhar o lúdico, reunir amigos e até mesmo gerar polêmicas entre os fãs de suas franquias. Não há faixa etária para jogá-los.

Ora, se eles foram feitos para diversão, independente da idade das pessoas, então é claro que eles não existem apenas para um público de gênero específico.

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Esse vídeo traz 25 vantagens invisíveis que os garotos têm sobre as meninas nos jogos

Eu poderia falar aqui sobre os diversos preconceitos que a comunidade tem. Sempre fomos taxados pela massa social como “nerds que ficam em suas batcavernas”, “gordos”, “virgens” e etc. E até hoje fãs de jogos são tratados dessa maneira, só que agora esses adjetivos são atribuídos aos gamers por eles próprios! Ah, tudo isso deveria ser debatido, sabe!? Mas o recorte principal aqui é a menina que quer apenas jogar sem ter que explicar pra todo mundo quem ela é e “como ela consegue jogar tão bem mesmo tendo uma vagina (ou não)”.

Essa discussão que envolve “meninas gamers” (e eu não gosto de usar a palavra gamer, mas aqui é necessário) aparece de vez em quando nas comunidades e diverge muitas opiniões. A polêmica gerada é grande, mas não é séria ou devidamente discutida em muitos aspectos. O que vemos, comumente, são conversas que querem apresentar essa “parte diferente” da comunidade tratando garotas como algo de outro mundo ou apenas balbuciando que são meninas deslocadas de seus reais propósitos e que se aventuraram no mundo dos games para fazer merda ou afetar o multiplayer. Reconheço e admito que a maioria da comunidade já tem consciência de que são apenas jogos e pessoas jogando-os. Não há motivo para segregar masculino e feminino. Mas em muitos casos, o erro de uma pessoa na jogabilidade ou estratégia durante o jogo é apontado como reflexo de seu gênero – e quando uma menina se sobressai isso vira motivo de pauta.

Aquela notícia sobre uma streamer de jogos famosa, sabe?
Da pró-player que tem um desempenho melhor do que dos meninos de seu time, já viu essa?
Ou até mesmo a reportagem com a fulana que desenvolveu um jogo fantástico, você conhece algo assim, né?
O que essas matérias têm em comum é o clichê “Como você se sente sendo uma menina gamer?“. A coisa tá errada a partir daí. É como se eu perguntasse para um Cheff como ele se sente sendo um homem que cozinha. Perceberam o quão deslocada pode ser essa pergunta? 


Eu sou a da direita com plus de barriguinha de cerveja

A questão é que a nossa percepção de meninas na comunidade não é tão óbvia assim. Ao que parece, em muitas dessas matérias ou discussões que aparecem por aí, as moças nunca tiveram contato com um jogo na vida e de repente estão engajadas indo até aos eventos de games. Eu falo como as pautas são criadas e abordadas, sabe? O que eu não consigo entender é de onde veio esse pensamento de que meninas que jogam são o uó do borogodó.

Plataformas de jogos são como qualquer outro produto com potencial para ser vendido e entreter seu público – um público geral. Apenas.

Nada de diferente do tipo “oh, uma versão para meninas”. É apenas um hardware, uma caixa com uma história pedindo para ser jogada. Desde quando isso foi pensado para garotos, surgindo como um “boy toy“?


Essa versão é horrível. Eu não jogaria nisso aqui. Sério mesmo.

No final do ano passado eu estava lendo no The Verge algo sobre porcentagens, e lá dizia que “60% dos americanos (estadunidenses, no caso) consideram que jogar videogames é uma atividade masculina“. Sessenta fucking por cento. Minha reação.

Diversas desenvolvedoras já iniciaram campanhas para tentar colocar na cabeça das pessoas que é um saco ficar taxando as garotas. A Riot Games, responsável pelo icônico “League of Legends”, publicou um vídeo no dia das mulheres mostrando como meninas podem ser incríveis nesse meio sem cair no mesmo clichê de “Ooooh, uma mulher”:

YouTube video

Sofri bullying por personalizar meus cadernos com

Hoje, já zerei mais de 250 títulos e pelo menos 70% deles só do gênero terror o que não é “considerado comum pra uma garota”. Tenho cerca de 50 contas em MMO RPGs, MOBAs entre outros. Já troquei itens e contas por dinheiro. Sempre usei nicks que não deixassem minha sexualidade explícita pois se não eu não conseguiria finalizar minhas transações de venda de contas e itens. Já sofri muito com preconceito nos jogos online e também com o “endeusamento” da garota gamer, me rendendo um stalker que me encheu o saco por bastante tempo. Fiz cosplays de personagens do Street Fighter e The King Of Fighters e sou muito feliz nesse meio em que me encontro, ao contrário do que dizem, não faço nada pra chamar a atenção, meu amor por esse hobby é sincero e o encaro com muita seriedade. Jogarei vídeo game pra sempre, pra MIM porque EU AMO.

Ariel Nolasco
Meu primeiro contato com jogos foi desde pequena, aos 5 anos, quando meu pai comprou um Playstation pra mim. Naquela época, eu já notava como jogos poderiam ser um universo totalmente diferente, onde eu podia criar personagens do jeito que eu quisesse, ou poderia jogar com personagens já feitos, que eu aprendi a amar tanto. Na adolescência foi onde percebi que as coisas não eram exatamente flores, quando tive meu primeiro contato com MMORPG (Ragnarok. <3) e comecei a perceber que a presença de mulheres nesses espaços era incômodo pras pessoas. As ofensas, todas que vinham em minha direção, era direcionadas a minha “mulheridade”: “é ruim porque é mulher”, “mulher sempre fode com jogo”. E isso me fez pensar que vivemos em uma cultura na qual mulheres não são estimuladas à jogarem. Somos ensinadas a brincar de boneca, de casinha, mas não somos estimuladas a jogar videogame quando pequenas, não somos estimuladas a explorar esse lado nosso.

Enquanto mulher transexual, ocorre algo diferente com mulheres como eu. Somos chamadas de “trap”, de “shema”, como se nós fossemos homens querendo se passar por mulher para ganhar itens! 

E isso acaba se tornando errado em diversos sentidos, porque não decidimos transicionar e sermos vistas e reconhecidas como mulheres para conseguirmos itens em jogos online. Nossa identidade de gênero está muito além do jogo, ou da nossa jogabilidade

Bernadete Björnstjärna
Quando eu era criança, passava dias das minhas férias em frente a TV jogando com as minhas irmãs. Jogávamos em uma televisãozinha portátil com a tela do tamanho de um pão de forma e levávamos tudo muito a serio. Como os vídeo games de console foram algo que criou um laço entre eu e minhas irmãs de uma forma tão intensa meus pais sempre apoiaram, se desdobravam para tentar comprar consoles de ultima geração e vários títulos. Muitas vezes, enquanto não tínhamos acesso a jogos novos, eu e minha irmã mais nova saímos para jogar em stands de lojas. Era comum juntar pessoas em volta de nos para assistir as duas menininhas jogando Guitar Hero II no expert e não demorou para ficarmos conhecidas na região que morávamos e nos convidarem para jogar em alguns campeonatos. Enquanto minha irmã estava jogando em campeonatos, entrei em contato com MMORPGs.

Tenho o que acredito ser uma das contas mais antigas ainda ativas de Ragnarok Online nos servidores da Level Up Games.

A partir do momento que comecei a jogar online percebi uma hostilidade em relação a mulheres jogando, passei por muitos jogos, li muita coisa dura de se ler, já chorei por causa dessas coisas, deixei de jogar jogos que amava por causa das mesmas, me incomodei muito em relação a design de personagens e não demorou muito até que eu decidi que gostaria de mudar a realidade com que mulheres são percebidas no cenário gamer.

Hoje, eu estudo Artes Visuais e estou decidida a ser mais uma mulher trabalhando na produção dos jogos para mudar a realidade de como nós, mulheres que amamos jogar, somos tratadas e percebidas in game.

Acredito que para mudar tudo isso é necessário que a mudança comece de dentro das empresas de desenvolvimento de jogos e para isso é preciso mulheres nessas empresas. Hoje temos empresas como a Riot Games, que esta preocupada com a maneira que suas personagens e seu publico feminino são percebidos e isso se dá pela inclusão de mulheres nas equipes de desenvolvimento. Quero fazer parte disso. Jogos foram uma parte importante da minha vida na minha infância e adolescência, espero que continuem sendo na minha vida adulta e que eu possa ajudar a melhorar coisas que me incomodaram tanto e me incomodam até hoje. Quero fazer parte do grupo de mulheres que esta transformando o cenário gamer em um cenário que se preocupa com o público feminino. 

Susy Fontenele  
Comecei a jogar pequena, não lembro a idade, mas meu tio me deu o Nintendo com Super Mario World e foi assim que entrei nesse mundo pra nunca mais sair. Com uns 11 anos comecei a jogar Ragnarok quando ia na casa do meu pai, na época era difícil ter internet em qualquer lugar. Depois passei a ter amor pelo Playstation e me apaixonei por Persona e Kingdom Hearts. A criação da Steam me facilitou muito a encontrar jogos e aumentar minha experiência com eles. Atualmente, estou cursando jornalismo e meu sonho é trabalhar com jornalismo de games, mas sei que será difícil e as oportunidades são poucas para nós mulheres. 

Geralmente uso nick neutro pra evitar o preconceito

Yuki Odani
Meu primeiro console foi um nintendo 64, que pedi de presente dos meus pais quando ainda bem jovem. Comecei com pokemon stadium e passava meus finais de semana todinhos jogando na internet, na época da discada mesmo. Com o passar do tempo comecei a frequentar lan houses, mas sempre acompanhada dos meus amigos meninos, as vezes alguns se interessavam em ficar de pé atrás da minha cadeira dando palpites ou ensinando as coisas. Até aí nunca me incomodei. O “harassment” mesmo começou provavelmente no League of Legends, onde a comunidade é realmente um pouco agressiva.

Falando desde coisas como “volta pra cozinha”, “mulher não tem que jogar”, “suporte, só podia ser mulher”, etc. A situação é bastante incômoda e não importa o quanto você mostre que, muitas vezes, joga melhor do que os que falam isso, eles não desistem da ideia de que você nem deveria estar lá.

Acontece que isso nunca me fez desistir, jogo já há muitos anos, atualmente tenho 21 e sou ex estudante universitária de Game Design. E pasmem, eu não era a única garota no curso. Apesar de sermos minoria.
Acho que a masculinidade de certos garotos é muito frágil e portanto eles precisam se sentir só entre eles nesse universo, mas não acho que isso vá acontecer. Tá na hora de crescerem e aprenderem a dividir o espaço com pessoas igualmente habilidosas do sexo oposto. Aprenderem a respeitar.

Camila M. Paganini 
Comecei a jogar bem criança, num Atari. Só aí dá pra perceber que eu sou bem velha. Com 2 irmãos em casa, os 2 controles do video-game eram bem disputados. Enquanto os meninos se revesavam para jogar jogos de 1 player, eu era convidada a ir brincar com “minhas coisas”, ou seja, bonecas e deixá-los em paz com as “coisas deles”. Quando meu irmão mais novo ou algum colega menino tinha dificuldade de passar uma fase, era encorajado a tentar novamente. Eu ouvia “deixa seu irmão passar pra você”.
Mas, sou teimosa, gostava de jogar e continuei. Minhas amigas não se interessavam muito, então, jogar tornou-se um hobby meio solitário. Passei por quase todos os consoles, mas, ultimamente os larguei pelo PC.

Tenho uma biblioteca considerável no Steam e Origin, que muitos acusam ser do meu irmão ou do meu namorado, ou que meu namorado banca pra mim. 

Eu não vejo nada de errado com streamers com decote. Se tem homem trouxa que só assiste por isso, o erro é dos caras. Mas, percebe-se o ódio da comunidade masculina com isso, como o Twitch, querendo regulamentar a roupa das moças que aparecem na stream, pois os rapazes que fazem stream estavam chateados por moças terem mais views e ganharem mais doações.
A gente sofre abuso o tempo todo nos jogos. Enquanto qualquer menino pode colocar nick masculinos, ou até o próprio nome, se a gente faz isso, começa uma série de abusos. Dizem que a gente é homem é botou nick de mulher para “ganhar confete ou itens”, ou “pegarem mais leve com ele”. Se a gente for mulher mesmo, a gente fica dizendo que é mulher pelos mesmos motivos citados anteriormente. Depois, qualquer mínimo erro que a gente cometa, mesmo que a gente esteja começando a jogar, é porque somos mulheres. Homens saem das partidas ao ver que tem mulher no time. Se seu time é composto de 4 rapazes e você de moça, caso ganhem, o time inimigo vai xingar você, mulher.

Há um tempo eu ouvi durante um jogo num famoso Moba coisas absurdas, incluindo uma pessoa do time inimigo relatando de como iria me estuprar. Entrei em contato com o jogo, que nunca me respondeu. Fui no fórum do jogo e ouvi coisas como “quem mandou botar nick de mulher?”, “a culpa é sua. Tem que falar que é mulher?”, “bem-feito. Aposto que estava prejudicando o time”. Os funcionários do jogo leram os absurdos que foram falado, viram os prints e deletaram meu post, dizendo que eu estava querendo tumultuar. Isso me influenciou um pouco e em vários jogos online acabo colocando o nome do meu cachorro como nick, por medo de ter uma experiência ruim.

Bárbara Corrêa Tomageski 
Eu cresci com videogames minha vida toda. Quando eu tinha por volta dos 4 anos, minha família tinha um apartamento na praia onde tinha o Super Nintendo, meu querido SNES. E como eu sempre fui muito branquela, o que acontecia comigo era que eu ia pra praia e voltava vermelhona, e isso ferrava com minha semana na praia já que tudo doía; então eu ficava jogando videogame com meus primos. Era uma felicidade imensa pra mim. Essa é, realmente, uma das primeiras lembranças que eu tenho de videogame. E lógico eu me lembro do meu Master System onde eu jogava Alex Kidd (com a ajuda de um guia Detonado, daqueles de revistinhas, sabe?), que eu lembro da música até hoje. E então tem o MegaDrive que foi onde eu descobri minha paixão pelo Sonic. Eu amava aquele jogo com todo o meu coração, e tanto eu amava que meu primo me desenhou num canson A3 um Sonic em Aquarela que tá guardado até hoje no meu armário. E então veio meu Nintendo 64, que eu tenho até hoje (e eu descobri o fabuloso mundo de Legend of Zelda e do meu querido Mario), e o Play 2. 
Não compro consoles desde o Playstation 2, e eu comecei a jogar mais no PC. Mas meu jogo de “todo dia” definitivamente é League of Legends. É um jogo incrível, pra mim, e que ao mesmo tempo que me relaxa e diverte quando eu jogo com meus amigos, consegue se tornar a pior decisão do mundo quando eu jogo com pessoas aleatórias na fila. Por quê? A resposta é simples. Não só pela toxicidade dos jogadores de atualmente, mas também pela falta de respeito uns com os outros. E quando descobrem que eu sou mulher, começam as ofensas a torto e a direito. 

Mas sabe que… Eu nunca vi problema nessas ofensas? Deixa eu explicar melhor: O problema está definitivamente ali. É visível, é quase palpável o que as mulheres sofrem todos os dias em jogos online. Mas essas pequenas ofensas como “Lugar de mulher é lavando louça”, “Vai limpar um fogão”, entre outras coisas de tarefas diárias, só me fazem querer jogar melhor, e provar que o lugar de mulher É SIM no mundo online.

E quando chega a Vitória na tela final, me deixa muito, muito satisfeita. Porque eu sei que dei meu melhor, eu sei que joguei bem, e não é meu sexo que vai definir minha jogabilidade, e sim meu esforço, minha habilidade de aprender e melhorar todos os dias.

Ainda é difícil ver mulheres no mundo competitivo, é sim. Só elas mesmas pra saberem os assédios que passam por todos os dias de suas vidas quando dedicaram sua carreira a serem jogadoras profissionais de X jogo. Homens são idolatrados no mundo dos jogos online, mulheres são pressionadas a desistir, que “aquela carreira não serve pra mulher”; e isso serve pra todas as outras carreiras que mulheres escolhem que são masculinizadas. Mas sabe… Eu admiro as mulheres que chegaram no competitivo, no mundo dos jogos, que conquistaram seu lugar com toda a sua dignidade e oferecendo única e exclusivamente o que a profissão exige: A jogabilidade. 
O preconceito existe, e muito. Enquanto existirem opiniões diferentes (independente de certas ou erradas), o preconceito vai existir. Cabe à nós sermos superiores, exibirmos toda a nossa graça e jogabilidade quando outros não têm capacidade de fazer isso e levar nosso time à vitória!


[survey id=”200224″]

Aí nós temos um exemplo de comentário comum sobre o assunto:

Há alguma possibilidade de fingir que as pessoas não precisam ser separadas por gênero enquanto JOGAM UM GAME? Só não liguem para isso. Não há o que superestimar ou subestimar aqui. Vamos apenas focar nos objetivos e fazer um multiplayer legal, tá?


Sobre o gênero da pessoa que está jogando

Pensando nisso, de que games são coisa antiga e tal, é mais do que claro que muitas meninas pediram videogames/gameboys aos seus pais (ou compraram elas mesmas) na época em que a tecnologia estava engatinhando. Sim, as maricotinhas da década de 70 tinham curiosidade de jogar nesse produto diferente – e jogaram! Então esse assunto não é para ser tratado como se fosse um contexto atual. As meninas sempre jogaram e continuarão a jogar tanto quanto os meninos. Um garota gamer não é algo novo na comunidade.

Crônica – Eu estava num campeonato uma vez de 62 pessoas inscritas para disputar em “Naruto Ultimate Ninja Storm 3“. Fui da chave para semi-final. Joguei contra uma garota. Ganhei com apenas 3 ou 4% de vida. Foi a melhor partida de campeonato que já joguei em minha vida! Não porque venci as semis (eu perdi a final), não porque joguei contra uma menina. O reconhecimento que eu e essa garota tivemos uma pela outra foi sensacional. E nós fomos reconhecidas por uma partida épica, depois fizemos amigos e encontramos um lugar confortável pra ser quem nós somos – como qualquer gamer. Esse é só um dos diversos exemplos. É isso que a gente quer, mais emoção e menos palavras, menos rage, menos assédio.  

Falei pouco aqui porque nem comentei sobre streamers ou personagens femininas nos jogos. Acho que isso pode ser citado em outro momento, ou não. É tão chato, sabe? Ter que ficar falando e repetindo. Nenhuma menina quer sofrer pressão ou ficar num pedestal apenas por ser menina. Nós não queremos que vocês fiquem no nosso pé avacalhando ou elogiando. Aliás, ninguém quer.

Aqui uma coluna muito legal do Kotaku sobre streamers

Jogar videogames é muito mais do que ter quantos títulos puder ou treinar até chegar na jogabilidade perfeita. É aprender com o que os jogos querem ensinar, servir como diversão, passatempo, entretenimento, como uma desculpa para reunir pessoas. É mudar sua atitude, aprender a coexistir – como se a vida fosse, e é, uma campanha multiplayer.

Enquanto a comunidade gamer não se definir como uma só e continuar segregando e conservando preconceitos, poucas coisas boas poderão ser aprendidas. E a você que chegou ao final desse desafogo de mágoas, parabéns. Repense seus próximos comentários e pré-julgamentos. É um porre ter que ficar ocultando seu gênero para evitar comentários tão ZzzzzZZzz.

Não queremos mais ler:
“Você não é tão ruim para uma garota”
“Volta pra cozinha e me traz um sanduíche, vadia
“Caralho, você é uma mina. Você é linda e joga bem OMFG! Me add”
“Eu tava pegando leve com você, porque você é uma garota”
“Você joga? Deve ser feia e … outros adjetivos pejorativos”


Como eu ficaria após fazer o que gostaria com gamers sexistas

A foto acima é exemplo de uma boa representatividade feminina dentro e fora dos games: Elizabeth, de “Bioshock”.
Você sabia que a equipe que desenvolveu o game é composta em sua maioria por mulheres? Esse assunto talvez fique para uma próxima coluna.

Vou colar aqui alguns depoimentos de garotas que se sentiram à vontade para falar do assunto me enviaram via comunidades/fóruns. Aliás, obrigada, suas lindas! Boa leitura e até mais, amigos.

Juliana Soares
Minha experiência com jogos começou ainda na infância, acompanhando os gostos do meu pai e primos. Tivemos Mega Drive, Super Nintendo, Nintendo 64 e outros. Nós também tínhamos o costume, lá pelos meus 6 anos, a jogar RPG de mesa.Na época em que eu eu passava horas jogando na infância eu era vista com certa estranheza pelos colegas, porque não era muito normal uma menina se interessar por jogos de luta como Street Fighter e Mortal Kombat. Quando meus pais compraram o PSOne descobri um amor que trago comigo até hoje: os jogos de terror. Eu joguei ainda criança, os primeiros Silent Hill e Resident Evil e também o Alone in The Dark que foi considerado o melhor da franquia. Na minha adolescência eu já tinha zerado todos os jogos de terror disponíveis na época para PS1 e PS2.

Sofri bullying por personalizar meus cadernos com

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Hoje, já zerei mais de 250 títulos e pelo menos 70% deles só do gênero terror o que não é “considerado comum pra uma garota”. Tenho cerca de 50 contas em MMO RPGs, MOBAs entre outros. Já troquei itens e contas por dinheiro. Sempre usei nicks que não deixassem minha sexualidade explícita pois se não eu não conseguiria finalizar minhas transações de venda de contas e itens. Já sofri muito com preconceito nos jogos online e também com o “endeusamento” da garota gamer, me rendendo um stalker que me encheu o saco por bastante tempo. Fiz cosplays de personagens do Street Fighter e The King Of Fighters e sou muito feliz nesse meio em que me encontro, ao contrário do que dizem, não faço nada pra chamar a atenção, meu amor por esse hobby é sincero e o encaro com muita seriedade. Jogarei vídeo game pra sempre, pra MIM porque EU AMO.

Ariel Nolasco
Meu primeiro contato com jogos foi desde pequena, aos 5 anos, quando meu pai comprou um Playstation pra mim. Naquela época, eu já notava como jogos poderiam ser um universo totalmente diferente, onde eu podia criar personagens do jeito que eu quisesse, ou poderia jogar com personagens já feitos, que eu aprendi a amar tanto. Na adolescência foi onde percebi que as coisas não eram exatamente flores, quando tive meu primeiro contato com MMORPG (Ragnarok. <3) e comecei a perceber que a presença de mulheres nesses espaços era incômodo pras pessoas. As ofensas, todas que vinham em minha direção, era direcionadas a minha “mulheridade”: “é ruim porque é mulher”, “mulher sempre fode com jogo”. E isso me fez pensar que vivemos em uma cultura na qual mulheres não são estimuladas à jogarem. Somos ensinadas a brincar de boneca, de casinha, mas não somos estimuladas a jogar videogame quando pequenas, não somos estimuladas a explorar esse lado nosso.

Enquanto mulher transexual, ocorre algo diferente com mulheres como eu. Somos chamadas de “trap”, de “shema”, como se nós fossemos homens querendo se passar por mulher para ganhar itens! 

E isso acaba se tornando errado em diversos sentidos, porque não decidimos transicionar e sermos vistas e reconhecidas como mulheres para conseguirmos itens em jogos online. Nossa identidade de gênero está muito além do jogo, ou da nossa jogabilidade

Bernadete Björnstjärna
Quando eu era criança, passava dias das minhas férias em frente a TV jogando com as minhas irmãs. Jogávamos em uma televisãozinha portátil com a tela do tamanho de um pão de forma e levávamos tudo muito a serio. Como os vídeo games de console foram algo que criou um laço entre eu e minhas irmãs de uma forma tão intensa meus pais sempre apoiaram, se desdobravam para tentar comprar consoles de ultima geração e vários títulos. Muitas vezes, enquanto não tínhamos acesso a jogos novos, eu e minha irmã mais nova saímos para jogar em stands de lojas. Era comum juntar pessoas em volta de nos para assistir as duas menininhas jogando Guitar Hero II no expert e não demorou para ficarmos conhecidas na região que morávamos e nos convidarem para jogar em alguns campeonatos. Enquanto minha irmã estava jogando em campeonatos, entrei em contato com MMORPGs.

Tenho o que acredito ser uma das contas mais antigas ainda ativas de Ragnarok Online nos servidores da Level Up Games.

A partir do momento que comecei a jogar online percebi uma hostilidade em relação a mulheres jogando, passei por muitos jogos, li muita coisa dura de se ler, já chorei por causa dessas coisas, deixei de jogar jogos que amava por causa das mesmas, me incomodei muito em relação a design de personagens e não demorou muito até que eu decidi que gostaria de mudar a realidade com que mulheres são percebidas no cenário gamer.

Hoje, eu estudo Artes Visuais e estou decidida a ser mais uma mulher trabalhando na produção dos jogos para mudar a realidade de como nós, mulheres que amamos jogar, somos tratadas e percebidas in game.

Acredito que para mudar tudo isso é necessário que a mudança comece de dentro das empresas de desenvolvimento de jogos e para isso é preciso mulheres nessas empresas. Hoje temos empresas como a Riot Games, que esta preocupada com a maneira que suas personagens e seu publico feminino são percebidos e isso se dá pela inclusão de mulheres nas equipes de desenvolvimento. Quero fazer parte disso. Jogos foram uma parte importante da minha vida na minha infância e adolescência, espero que continuem sendo na minha vida adulta e que eu possa ajudar a melhorar coisas que me incomodaram tanto e me incomodam até hoje. Quero fazer parte do grupo de mulheres que esta transformando o cenário gamer em um cenário que se preocupa com o público feminino. 

Susy Fontenele  
Comecei a jogar pequena, não lembro a idade, mas meu tio me deu o Nintendo com Super Mario World e foi assim que entrei nesse mundo pra nunca mais sair. Com uns 11 anos comecei a jogar Ragnarok quando ia na casa do meu pai, na época era difícil ter internet em qualquer lugar. Depois passei a ter amor pelo Playstation e me apaixonei por Persona e Kingdom Hearts. A criação da Steam me facilitou muito a encontrar jogos e aumentar minha experiência com eles. Atualmente, estou cursando jornalismo e meu sonho é trabalhar com jornalismo de games, mas sei que será difícil e as oportunidades são poucas para nós mulheres. 

Geralmente uso nick neutro pra evitar o preconceito

Yuki Odani
Meu primeiro console foi um nintendo 64, que pedi de presente dos meus pais quando ainda bem jovem. Comecei com pokemon stadium e passava meus finais de semana todinhos jogando na internet, na época da discada mesmo. Com o passar do tempo comecei a frequentar lan houses, mas sempre acompanhada dos meus amigos meninos, as vezes alguns se interessavam em ficar de pé atrás da minha cadeira dando palpites ou ensinando as coisas. Até aí nunca me incomodei. O “harassment” mesmo começou provavelmente no League of Legends, onde a comunidade é realmente um pouco agressiva.

Falando desde coisas como “volta pra cozinha”, “mulher não tem que jogar”, “suporte, só podia ser mulher”, etc. A situação é bastante incômoda e não importa o quanto você mostre que, muitas vezes, joga melhor do que os que falam isso, eles não desistem da ideia de que você nem deveria estar lá.

Acontece que isso nunca me fez desistir, jogo já há muitos anos, atualmente tenho 21 e sou ex estudante universitária de Game Design. E pasmem, eu não era a única garota no curso. Apesar de sermos minoria.
Acho que a masculinidade de certos garotos é muito frágil e portanto eles precisam se sentir só entre eles nesse universo, mas não acho que isso vá acontecer. Tá na hora de crescerem e aprenderem a dividir o espaço com pessoas igualmente habilidosas do sexo oposto. Aprenderem a respeitar.

Camila M. Paganini 
Comecei a jogar bem criança, num Atari. Só aí dá pra perceber que eu sou bem velha. Com 2 irmãos em casa, os 2 controles do video-game eram bem disputados. Enquanto os meninos se revesavam para jogar jogos de 1 player, eu era convidada a ir brincar com “minhas coisas”, ou seja, bonecas e deixá-los em paz com as “coisas deles”. Quando meu irmão mais novo ou algum colega menino tinha dificuldade de passar uma fase, era encorajado a tentar novamente. Eu ouvia “deixa seu irmão passar pra você”.
Mas, sou teimosa, gostava de jogar e continuei. Minhas amigas não se interessavam muito, então, jogar tornou-se um hobby meio solitário. Passei por quase todos os consoles, mas, ultimamente os larguei pelo PC.

Tenho uma biblioteca considerável no Steam e Origin, que muitos acusam ser do meu irmão ou do meu namorado, ou que meu namorado banca pra mim. 

Eu não vejo nada de errado com streamers com decote. Se tem homem trouxa que só assiste por isso, o erro é dos caras. Mas, percebe-se o ódio da comunidade masculina com isso, como o Twitch, querendo regulamentar a roupa das moças que aparecem na stream, pois os rapazes que fazem stream estavam chateados por moças terem mais views e ganharem mais doações.
A gente sofre abuso o tempo todo nos jogos. Enquanto qualquer menino pode colocar nick masculinos, ou até o próprio nome, se a gente faz isso, começa uma série de abusos. Dizem que a gente é homem é botou nick de mulher para “ganhar confete ou itens”, ou “pegarem mais leve com ele”. Se a gente for mulher mesmo, a gente fica dizendo que é mulher pelos mesmos motivos citados anteriormente. Depois, qualquer mínimo erro que a gente cometa, mesmo que a gente esteja começando a jogar, é porque somos mulheres. Homens saem das partidas ao ver que tem mulher no time. Se seu time é composto de 4 rapazes e você de moça, caso ganhem, o time inimigo vai xingar você, mulher.

Há um tempo eu ouvi durante um jogo num famoso Moba coisas absurdas, incluindo uma pessoa do time inimigo relatando de como iria me estuprar. Entrei em contato com o jogo, que nunca me respondeu. Fui no fórum do jogo e ouvi coisas como “quem mandou botar nick de mulher?”, “a culpa é sua. Tem que falar que é mulher?”, “bem-feito. Aposto que estava prejudicando o time”. Os funcionários do jogo leram os absurdos que foram falado, viram os prints e deletaram meu post, dizendo que eu estava querendo tumultuar. Isso me influenciou um pouco e em vários jogos online acabo colocando o nome do meu cachorro como nick, por medo de ter uma experiência ruim.

Bárbara Corrêa Tomageski 
Eu cresci com videogames minha vida toda. Quando eu tinha por volta dos 4 anos, minha família tinha um apartamento na praia onde tinha o Super Nintendo, meu querido SNES. E como eu sempre fui muito branquela, o que acontecia comigo era que eu ia pra praia e voltava vermelhona, e isso ferrava com minha semana na praia já que tudo doía; então eu ficava jogando videogame com meus primos. Era uma felicidade imensa pra mim. Essa é, realmente, uma das primeiras lembranças que eu tenho de videogame. E lógico eu me lembro do meu Master System onde eu jogava Alex Kidd (com a ajuda de um guia Detonado, daqueles de revistinhas, sabe?), que eu lembro da música até hoje. E então tem o MegaDrive que foi onde eu descobri minha paixão pelo Sonic. Eu amava aquele jogo com todo o meu coração, e tanto eu amava que meu primo me desenhou num canson A3 um Sonic em Aquarela que tá guardado até hoje no meu armário. E então veio meu Nintendo 64, que eu tenho até hoje (e eu descobri o fabuloso mundo de Legend of Zelda e do meu querido Mario), e o Play 2. 
Não compro consoles desde o Playstation 2, e eu comecei a jogar mais no PC. Mas meu jogo de “todo dia” definitivamente é League of Legends. É um jogo incrível, pra mim, e que ao mesmo tempo que me relaxa e diverte quando eu jogo com meus amigos, consegue se tornar a pior decisão do mundo quando eu jogo com pessoas aleatórias na fila. Por quê? A resposta é simples. Não só pela toxicidade dos jogadores de atualmente, mas também pela falta de respeito uns com os outros. E quando descobrem que eu sou mulher, começam as ofensas a torto e a direito. 

Mas sabe que… Eu nunca vi problema nessas ofensas? Deixa eu explicar melhor: O problema está definitivamente ali. É visível, é quase palpável o que as mulheres sofrem todos os dias em jogos online. Mas essas pequenas ofensas como “Lugar de mulher é lavando louça”, “Vai limpar um fogão”, entre outras coisas de tarefas diárias, só me fazem querer jogar melhor, e provar que o lugar de mulher É SIM no mundo online.

E quando chega a Vitória na tela final, me deixa muito, muito satisfeita. Porque eu sei que dei meu melhor, eu sei que joguei bem, e não é meu sexo que vai definir minha jogabilidade, e sim meu esforço, minha habilidade de aprender e melhorar todos os dias.

Ainda é difícil ver mulheres no mundo competitivo, é sim. Só elas mesmas pra saberem os assédios que passam por todos os dias de suas vidas quando dedicaram sua carreira a serem jogadoras profissionais de X jogo. Homens são idolatrados no mundo dos jogos online, mulheres são pressionadas a desistir, que “aquela carreira não serve pra mulher”; e isso serve pra todas as outras carreiras que mulheres escolhem que são masculinizadas. Mas sabe… Eu admiro as mulheres que chegaram no competitivo, no mundo dos jogos, que conquistaram seu lugar com toda a sua dignidade e oferecendo única e exclusivamente o que a profissão exige: A jogabilidade. 
O preconceito existe, e muito. Enquanto existirem opiniões diferentes (independente de certas ou erradas), o preconceito vai existir. Cabe à nós sermos superiores, exibirmos toda a nossa graça e jogabilidade quando outros não têm capacidade de fazer isso e levar nosso time à vitória!


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